segunda-feira, 3 de junho de 2013

TAG - O Sacrifício dos Livros


Todos já lemos, em algum momento das nossas vidas, livros de que não gostámos. Confesso que não me lembro de muitos. Quando começo a não gostar de uma leitura, normalmente, meto o livro de lado e esqueço-me dele. Temos tão pouco tempo para ler…e listas intermináveis de desejos… Contudo, já todos lemos coisas de que gostámos menos. Esta tag, que anda a circular pela Internet há uns meses, não é da minha autoria. Mas achei-a interessante. Não quero ofender ninguém, apenas expressar o meu profundo desagrado em relação a alguns livros que li.
Convido-vos a reagir aos quatro cenários que se seguem. É uma boa maneira de avaliar as vossas leituras, espantando alguns males!

Cenário 1: Estamos na nossa livraria preferida, completamente hipnotizados pelas novidades, a fazer ínfimas listas mentais com as razões pelas quais não precisamos de comprar mais livros (o costume…). Quando, de repente, ouvimos o anúncio: «Apocalipse de Zombies! Estamos a ser atacados por zombies e a única forma de se salvarem é atingirem o vosso inimigo com um livro sensacionalista!» Que livro, de todos aqueles que foram aclamados por toda a gente, escolheriam? Que livro sacrificariam sem nenhum remorso para se salvarem?

Para mim a resposta é fácil… Infelizmente este livro é de um autor que admiro imenso. Adoro a sua obra e posso mesmo afirmar que todos os seus livros me mudaram e influenciaram a minha forma de viver. Por isso… não podem imaginar o meu desgosto quando li o último livro do José Luís Peixoto: Dentro do Segredo - Uma viagem na Coreia do Norte. 
Sim, eu sei que é um livro de viagens e não de ficção, mas aquelas páginas foram uma tortura. Todo aquele tom mágico e intimista a que o autor me habituou desapareceu… Aquela sensação de estarmos a viver dentro das páginas e a tocar todos os acontecimentos narrados foi inexistente… Foi tudo o que um livro do grande José Luís Peixoto não deve ser: BANAL! Foi como ver um dos meus heróis preferidos cair em combate, perante o meu olhar impotente… até que… se refere a algo, enlaçando-me como nos livros anteriores… começo a sentir o seu abraço, ansiosa por saber o propósito daquele fragmento inesperado… quando me apercebo: ele está a descrever a sua relação com o telemóvel! Ok, eu sei que é mais do que isso, sei que é para se referir à distância intransponível entre ele e os que ama, à disparidade desumana existente entre espaços tão próximos, mas ao mesmo tempo tão distantes… eu percebo… mas… Porque me fizeste isto?! Porquê banalizar a tua genialidade? 
O pior de tudo isto é o destaque que deram ao livro, as conversas que me rodearam sobre ele e o olhar vazio das pessoas quando lhes perguntava se também tinham gostado, por exemplo, de Uma Casa na Escuridão  ou do Cemitério de Pianos… essas sim: obras-primas!
Enfim… sacrificava este livro sem remorsos, mas abraçava todos os outros dele!

Cenário 2: Acabamos de sair de um cabeleireiro com o melhor penteado do mundo. Nunca tivemos o cabelo tão bonito e gastámos uma fortuna! Estamos a sair e… BUUUMMM: Chuva torrencial! Não temos chapéu de chuva… temos de usar um livro. Que livro, numa série, estamos dispostos a sacrificar para proteger o cabelo?

Novamente vou referir-me a um livro que faz parte de uma das minhas sagas preferidas. Ao escolhê-lo, não é minha intenção falar mal da obra enquanto um todo: recomendo a todos que a leiam! Vão viver umas das melhores aventuras da vossa vida! Não se vão arrepender! Estes livros são os melhores amigos que podemos ter nas viagens diárias de comboio, deixando-nos a desejar que nunca cheguemos ao nosso destino… é doloroso fechá-los. Mas, de todos os livros de uma série, eu afogaria O Mar de Ferro, do George R. R. Martin, das Crónicas do Gelo e do Fogo. Não sentiria remorsos: as minhas personagens preferidas não aparecem e as outras andam de um lado para o outro numa letargia que me fez bocejar centenas de vezes! Sei que aprofundou outras personagens, apanhei alguns sustos, mas… no conjunto de todos os livros, este foi uma seca! Para ser sincera, só senti a adrenalina da leitura no capítulo «A Gata dos Canais» (não vou dar nenhum spoiler, descansem…).
Enfim… fui ao lançamento do Dance with Dragons em Portugal, conheci o autor, mas tenho o livro pendente… estou à espera de me recompor. Sei que assim que pegar nele, vai ser como se o anterior nunca tivesse existido (ainda bem…).

Cenário 3: Estamos sentados numa aula sobre literatura. O nosso professor começa a falar emocionado sobre aquele clássico que «mudou o mundo», mas que nós não suportamos. Odiámo-lo tanto que só queremos pegar nele e atirá-lo ao professor. Que clássico nos irrita tanto?

Esta resposta é fácil…O Livro de Cesário Verde! Quando o estudei, cheguei mesmo a escrever um ensaio com todas as razões pelas quais o odiava! Posso dizer que a professora ficou, no mínimo, surpreendida… Regra geral, ninguém gosta de ler livros por obrigação, mas só percebi o verdadeiro significado disso quando tive de ler os poemas de Cesário Verde. Senti-me a sufocar de repulsa perante muitos versos; posso dizer que a visão tão nua e crua, tão objectiva, do mundo é, para mim, uma limitação poética. 
Uma vez que não há nada mais subjectivo do que o mundo da poesia (ahahah), nunca atiraria com o livro ao professor, mas voltaria a escrever aquele ensaio! 

Cenário 4: Estamos na biblioteca quando… BUMMM! Explode o aquecimento global e o mundo transforma-se num deserto gelado! Para não morrermos de frio, temos de queimar livros. Qual é o livro que vamos queimar primeiro? Qual é o livro que menos gostámos de ler em toda a nossa vida? Qual é a obra que não sentiríamos remorsos em queimar?

Só me lembro de um livro que queimaria para purgar a minha desilusão. Estou a referir-me a um livro de um dos meus autores preferidos, alguém que admiro profundamente. Talvez seja por isso que odiei lê-lo: tinha tantas expectativas que a falta de tudo aquilo por que esperava foi um balde de água fria e tóxica. Estou a falar de um livro de Murakami: Sputnik, meu amor. Não consegui entrar no universo, senti-me apática e completamente desapontada com esta leitura. Preferia nunca ter lido este livro, para continuar a olhar para Murakami sem mácula. Nem tudo é perfeito…


K. Dalloway

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