quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Título Original: Vingt ans après

 

          Autor: Alexandre Dumas


       Editora: Editoral Minerva

 

  4 Volumes

 



 Vinte Anos Depois é a continuação da história de Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas. Nesta obra, acompanhamos a história de D´Artagnan e os seus amigos, vinte anos depois das suas aventuras como mosqueteiros. Estamos em meados do século XVIII e a França esta dividida em dois partidos: o do cardeal Mazarin  que controla a rainha Ana de Áustria  eo seu filho, ainda menor, Luís XIV; e o partidão popular La Fronde que é composto por alguns dos mais importantes membros da nobreza. D´Artagnan e Porthos estão a lutar pelo cardeal Mazarin enquanto Athos e Aramis estão do lado da Fronde.  Após várias aventuras, D'Artagnan e Porthos são mandados à Inglaterra, pelo cardeal, com o objectivo de entregar uma carta ao general Oliver Cromwell que está a tirar o poder ao rei Carlos I da Inglaterra. Chegado ao país, os nossos amigos entregam a carta, mas depois encontram Athos e Aramis, que foram para a Inglaterra para salvar o rei Carlos I. Então, juntam-se os quatro, e fazem várias tentativas de salvar o monarca, que foi condenado a morte pelo Parlamento, no entanto, o rei acaba por ser executado. Por fim, voltam à sua pátria, matando pelo caminho o seu inimigo mortal - Mordaunt, filho da Milady The Winter, que os amigos executaram em Os Três Mosqueteiros. Athos, Porthos e D'Artagnan são presos, porém, eles fogem, conseguindo raptar Mazarino, que teve que cumprir as vontades do povo, para se libertar.

No fim, os quatro amigos voltam a despedir-se.

Alexandre Dumas é sem dúvida um dos autores que sabe levar o leitor a viver as aventuras deste quatro amigos. Sentimos de alguma maneira que somos se fossemos o «quinto mosqueteiro».

« un pour tous et tous pour un »  



Winter



NOTA: POR SER UMA OBRA BASTANTE ANTIGA, OS LIVROS EM PORTUGUÊS SÓ SE ENCONTRAM DISPONÍVEIS EM ALFARRABISTAS.

 

sábado, 26 de outubro de 2013

O quebra-cabeças do Tempo


© Henning Wagenbreth

Título: A História de Lisey
Autor: Stephen King
Editora: Bertrand Editora (Junho de 2007)
Páginas: 488
O artifício que reside na inconstância da fluidez do tempo adensa o terror inerente a todas as narrativas. A capacidade de saltar para o passado, torná-lo mais longínquo, meditar sobre ele, desenterrar cadáveres esquecidos é uma marca indelével da arte de contar histórias de terror. A carga psicológica adensa-se e ficamos confusos, perturbados, a tentar encontrar o nosso caminho de regresso à «normalidade». Sem a estabilidade do tempo, perdemos o nosso chão e somos puxados por forças divergentes que geram o caos, dando lugar à maldição da incerteza e à pressão psicológica do desconhecido.

Para celebrar o mês do terror estou a ler A História de Lisey, de Stephen King, uma obra marcada pelo descompasso da narrativa, constantemente invadida por analepses e prolepses nas alturas mais inesperadas. Sem aviso, somos transportados para passados distantes que, por sua vez, são habitados por memórias com raízes longínquas. Inesperadamente, somos arrancados de reflexões sobre o passado e puxados para o presente, somos testemunhas de diálogos comentados por fantasmas e dirigidos por meandros atemporais que instalam a loucura.
Como o título indica, a história narrada é a de Lisey Debusher, viúva de um mediático escritor – Scott Landon – que faleceu há dois anos. Na sua ausência, tem de lidar com os demónios do passado de ambos, com a loucura da sua irmã (Amanda) e com a obsessão dos incunks (os seguidores fanáticos do escritor, que acabam por não perceber nada). Muito mais do que isso, Lisey tem de lutar consigo mesma, com a sua tendência insistente em viver numa realidade convencional (quase conservadora), desvendando os fantasmas que obscureciam a percepção da sua própria vida e a do seu companheiro. Assim, descobre nos «sacrifícios de sangue» um mundo alternativo, um refúgio – o Boo’ya Moon. Toda a história é um quebra-cabeças assombrado, mas enlaçado pelo estranho, mas verdadeiro e terno, amor deste casal. Conseguirá Lisey encontrar-se?

Para além desta leitura, para adensar a ambiência de terror, este mês tem sido preenchido pelo último álbum de Steven Wilson: The Raven That Refused to Sing. Esta obra-prima foi inspirada por diversos contos de terror, e a faixa «Watchmaker» não é excepção. Nela conhecemos um relojoeiro que passou a vida a trabalhar com o tempo, moldando-o para os outros, mas vivendo à margem dele, sempre à espera de uma outra vida. Esta letargia termina quando a sua falecida mulher, que apenas amou pela necessidade convencional, o vem buscar para se juntar a ele na eternidade da morte. É um bom exemplo de como o incansável jogo do tempo cria labirintos de loucura, à margem da realidade.





K. Dalloway

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

As dez Figuras Negras


 

Título Original: And Then There Were None 

 

          Autor: Agatha Christie 


       Editora: Edições ASA

 

    Páginas:  192

 


  Agatha Christie continua a ser, sem sombra de dúvida, a rainha do policial e do suspense na literatura. Esta obra conta  a história de dez desconhecidos que recebem um convite de U. N. Owen para passarem uma temporada na ilha de Devon. Durante o jantar ocorre um homicídio. A história gira em volta destes dez desconhecidos terem que procurar o assassino entre eles. cada morte vai estar relacionada com as dez figurinhas negras que estão expostas na mesa de jantar.
 
Este é um daqueles livros que não se consegue parar de ler. Aliás a autora tem este dom, escreve num estilo que prende o leitor do princípio ao fim.

«Ten little Soldier Boys went out to dine;
One choked his little self and then there were nine.
Nine little Soldier Boys sat up very late;
One overslept himself and then there were eight.
Eight little Soldier Boys traveling in Devon;
One said he'd stay there and then there were seven.
Seven little Soldier Boys chopping up sticks;
One chopped himself in halves and then there were six.
Six little Soldier Boys playing with a hive;
A bumblebee stung one and then there were five.
Five little Soldier Boys going in for law;
One got in Chancery and then there were four.
Four little Soldier Boys going out to sea;
A red herring swallowed one and then there were three.
Three little Soldier Boys walking in the zoo;
               A big bear hugged one and then there were two.
            Two little Soldier Boys sitting in the sun;
   One got frizzled up and then there was one
   One little Soldier Boy left all alone;
       He went out and hanged himself and then there were none.»
Winter

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Curiosos, fiquem avisados

Lembram-se da Pandora e da sua bolsa? Pois é, às vezes a curiosidade tem dessas coisas. Aliás, o excesso desse tão sábio vício pode até ser o mote para uma história de desenlace macabro. 
Assim pensou Montague Rhodes James, mais conhecido pelas iniciais dos primeiros (excelentes) dois nomes acrescidas ao prosaico apelido, por extenso. Simplificando, M. R. James (1862-1936), académico de Cambridge, medievalista, aficionado por antiguidades e pai de um género de histórias de fantasmas, as antiquarian ghost stories
Conta-se que M. R. James escreveria estas histórias, ou uma boa parte delas, com um propósito bem definido: o de serem lidas em voz alta, nos serões frios de Natal, quando família e amigos se reuniam para a partilha de sustos. Ainda falta algum tempo para a quadra, é verdade, mas o frio já começa a fazer-se sentir lá fora e ainda no outro dia vi bolos-reis e broas castelares na montra do supermercado. Sugestão: pegue no cobertor e no chocolate quente e... Bu.






M. R. James, Novas Histórias de Fantasmas, Mem Martins, Publicações Europa-América, 1994
(ed. original: Collected Ghost Stories, 1931)









"A Warning to the Curious" é o conto que hoje trago. Como a obra já se encontra em domínio público, é fácil (e legal) encontrá-lo na íntegra na Internet. Originalmente publicado em A Warning to the Curious and Other Ghost Stories, em 1925, voltaria a integrar uma nova colectânea de contos de M. R. James seis anos depois, Collected Ghost Stories. Nos anos 90, esta obra foi traduzida e publicada em Portugal pelas edições Europa-América, numa colecção de livros de bolso dedicada ao género. Creio (e corrigem-me se estiver enganada) que se trata da única tradução da obra de M. R. James no nosso país, o que, assim sendo, é de lamentar. Aqui fica a achega para as editoras portuguesas.
Mas concentremo-nos agora do conto propriamente dito. "A Warning to the Curious" contém todos os ingredientes de uma antiquarian ghost story: um cenário bucólico que não deixa antever o desenlace, um antiquário como protagonista, a descoberta de um objecto vinculado ao sobrenatural. Especifiquemos: o cenário é a localidade fictícia de Seaburgh que, como o nome indica, fica na costa inglesa; o protagonista é Paxton, um antiquário; o objecto encontrado (e usurpado do seu local de origem devido à curiosidade do protagonista) é uma antiga coroa anglo-saxónica que, conta a lenda, seria uma de três coroas sagradas "semeadas" junto ao mar, com o poder de afastarem da costa inglesa potenciais invasores. Ora, a coroa fora, durante gerações, guardada por uma família, os Ager. Com a morte do último descendente, William Ager, o objecto sagrado ficara desprotegido. Ou talvez não. É nesse "talvez" que reside o âmago do enredo... e não digo mais.
Um ou dois apontamentos formais sobre "A Warning to the Curious". O texto é dotado de uma forte oralidade. Aliás, é fácil imaginá-lo a ser lido na tal noite fria de Natal. Talvez na voz de Christopher Lee.


BBC Ghost Stories for Christmas, ep. 1

A estrutura também revela a mestria de M. R. James em sugerir mais do que revela. Num efeito matrioshka, encontramos três narrativas encaixadas sucessivamente. 

  1. O narrador, não identificado, começa o conto rendido à paixão por Seaburgh e pelas suas lendas e tradições ("Still it keeps its place in my affections, and any tales of it that I pick up have an interest for me"). Diz então que vai contar uma história que ouviu a um conhecido seu. 
  2. Entra então a narrar o dito conhecido, também ele não identificado. Este segundo narrador torna-se numa personagem do enredo. Hospedado num hotel em Seaburgh, na companhia do amigo Henry Long, é ele quem recebe a visita inesperada de um outro hóspede, um homem esquálido e nervoso, do qual, só bem mais tarde, ficamos a conhecer o nome, Paxton. 
  3. Paxton torna-se no terceiro narrador ao contar a insólita história que o levara a tal estado de esgotamento. 
Mais à frente, o autor regressa ao segundo narrador e é na voz deste que termina a história. Até porque Paxton já não se encontrava em condições de terminar a narrativa. 
Ups! Spoiler!
A. Zamperini

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O Abismo de Poe

Título: «O Poço e o Pêndulo», um conto incluído em Edgar Allan Poe - Histórias Extraordinárias
Autor: Edgar Allan Poe
Editora: LeYa-Bis
Páginas: 16


O terror mais tenebroso ergue-se da impotência da angústia perante a falta de escolha. A existência dormente do desmaio perante a inutilidade, dentro de um grito mudo sem resposta, envolve o ser humano nesse «abismo trasmundano» do desmoronar da ponte entre a esfera do espírito e o mundo do físico. Com a sentença de morte, o fim inevitável não escolhe nem o tempo nem o espaço, confinando-se ao vazio do abismo desconhecido. Mas o frémito da vida persiste e, mesmo perante a evidência incontornável do fim, podemos sempre acordar e, talvez, vislumbrar a fraca possibilidade de que «mesmo no túmulo nem tudo está perdido».



Começamos a leitura de O Poço e o Pêndulo com a evidência indiscutível da sentença de morte de um homem, condenado pela Inquisição. Sem alento nem esperança, aguarda o derradeiro instante em que abandonará a vida. Contudo, apesar de implacável e certeiro, o fim não chega de imediato, arrastando-se na escuridão, assombrando e amaldiçoando a sua última morada, como um vislumbre do túmulo: uma sala escura com paredes de metal e um poço profundo. Perante o desafio de resistir a saltar para o seu fim, é deixado num estado descompassado entre a insónia e o delírio, desmaiando para voltar a ser acordado e alimentado, apenas para resistir a mais umas horas de implacável terror: está destinado à loucura, à tenebrosa escolha de saltar. Permanece nesse pesadelo e vê-se rodeado de paredes cobertas de desenhos, povoadas por figuras monstruosas e demoníacas que o assombram. Mais tarde, após mais um sono induzido, acorda amarrado a uma espécie de altar sacrificial de madeira, com um pêndulo cuja extremidade é uma lâmina que desce, devagar e incessantemente, na sua direcção. O pavor percorre os seus pensamentos e a tortura torna-se consciente. Entre o pálido desejo de sobreviver e a miragem do alívio do abraço da morte, o vibrar moroso do pêndulo percorre os seus pensamentos. Até que, quando a situação não poderia piorar, do poço aparecem montanhas de ratazanas vorazes esfomeadas, controladas pelo cheiro a medo e a carne. Mas são estes demónios que o salvam, libertando-o do seu cárcere. Quando o fim está perto, as próprias paredes aquecem e a cela fica povoada de bestas, percorrida por um calor infernal, onde o poço parece a única salvação. Sem escolha e perante a angústia da tortura, uma questão persiste: haverá mesmo esperança no túmulo? O que acontecerá a este condenado?

Mestre do terror, este conto de Edgar Allan Poe destaca-se pela sua chama, ainda que pequena, de esperança. A tortura psicológica ganha formas tenebrosas e mergulhamos num delírio doentio, que torna impossível ler este conto sem ser de uma assentada só. Afinal, o terror habita em nós e, perante a orientação deste mestre, não conseguimos resistir ao seu chamamento.


                K. Dalloway

terça-feira, 8 de outubro de 2013

A Trilogia das Jóias Negras

Sim, penso que já tornei óbvio o meu amor por literatura mais "de época" como se costuma dizer. O meu nome acaba por dizer tudo e resumir de forma muito sucinta e perspicaz os meus gostos e interesses. Mas, em virtude do tema deste mês, pensei que esta seria uma ocasião apropriada para falar sobre a Trilogia das Jóias Negras de Anne Bishop.
Não é que acredite que a autora ou a Trilogia em si necessitem de uma apresentação. Sejamos sinceros, os aficionados pelo estilo Gótico, ou pura e simplesmente aqueles cuja roupa parece ser quase exclusivamente feita com renda preta, que usam rímel pesado e pó-de-arroz e um carácter vagamente (ou não) depressivo já ouviu falar de Bishop e da "maravilhosa" história de Jaenelle, a jovem (e quero mesmo dizer jovem, não adolescente) feiticeira destinada a tornar-se uma grande e poderosa Rainha da Sombras.
Ora, pessoalmente, não gosto muito de terror. Para ser honesta, muitas vezes nem aguento sequer olhar para o ecrã quando está a passar um filme de terror que ainda não tenha visto. E para os ver tem que ser numa sala bem iluminada, de preferência ao meio-dia e mesmo assim. Com os livros já não é tanto assim, mas também não os consigo ler à noite. Resumindo e concluindo, sou uma mariquinhas.
Mas então, agora perguntaram, como e porque carga de água é que uma medricas como eu escreve agora sobre uma trilogia de romances góticos contemporâneos (na minha opinião) se nem os consegue apreciar?
Eis a resposta: esta foi a única trilogia negra que até hoje não consegui largar, nem sequer para dormir. Comecei a lê-la na sala de espera de um laboratório de análises e até acabar os três livros, não os voltei a pousar. O estilo de escrita é relativamente simples, a história inebriante e a transmutação local imediata. Para além dos nomes das personagens (praticamente todos baseados em demónios conhecidos) e do seu modo de vida, a própria tragédia vivida pela Jaenelle (que, já agora, não nos apercebemos ser personagem principal até já termos lido uns bons capítulos) dá ao livro uma aura inquietante, independentemente da romantização das capas.


Austen

sábado, 5 de outubro de 2013

Passatempo Facebook - Mês do Terror

Contos Misteriosos e Fantásticos
Mary Shelley
Planeta Editora
«Mary Shelley é recordada sobretudo pela obra Frankenstein. Este livro Contos Misteriosos e Fantásticos, concede aos leitores, seguidores da literatura fantástica e admiradores do período romântico inglês, uma imagem mais completa e complexa desta escritora fabulosa, ao enfatizar a completa variedade e significado da sua escrita. Um livro obrigatório para compreender a narrativa de Shelley, que trouxe uma visão inovadora que deu expressão à imaginação criadora, às inquietudes, reflexões, descobrimentos e avanços da ciência e, às possíveis transformações sociais que abalaram a concepção tradicional da orbe. Transgrediu os limites dos espaços familiarizados do mundo, infringiu o tempo conhecido por todos nós (presente e passado histórico) e, abriu a porta à especulação de outras dimensões e elementos da realidade, a par da luz e da sombra, do belo e do feio, do bem e do mal. Mary Shelley advertiu-nos que todas as ambivalências são humanas, sendo necessário contemplá-las de modo amistoso. Sob o prazer heterodoxo declarou-nos que a fealdade não é medonha, pelo contrário, pode ser maravilhosamente sedutora, somente a ambição desmesurada nas diversas áreas funcionais do ser humano, e a repressão são valores não desejáveis. Estes contos misteriosos e fantásticos, traduzidos pela primeira vez em português, comprovam o talento e a actualidade desta autora quando no século XXI procuramos aparentar aquilo que afinal não somos, como na obra-prima da literatura gótica: ‘Transformação’, conto macabro e sinistro.»


Para celebrar o tema deste mês, estamos a sortear um exemplar dos Contos Misteriosos e Fantásticos, de Mary Shelley. Para se habilitarem a ganhar, basta:

1. Gostar da página da Espinha Quebrada no Facebook;(https://www.facebook.com/pages/Espinha-Quebrada/1412760305617484?fref=ts);
2. Gostar do post relativo ao passatempo;
3. Partilhá-lo no vosso mural;
4. Escrever nos comentários do post o título do livro que estão a ler.


O passatempo termina dia 15 de Outubro e o vencedor será escolhido através de random.org
Boa sorte a todos!

Esperamos que nos acompanhem nesta viagem pelo universo da literatura de terror!

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O medo mora comigo


Começo novamente com música. Desta vez, fado. Não é propriamente a minha praia mas "O Medo", na voz de Amália, é outra história. Talvez pelos versos iniciais:
Quem dorme à noite comigo
É meu segredo,
Mas se insistirem, eu lhes digo:
O medo mora comigo,
Mas só o medo.
Não sei se Amália terá lido Maupassant, mas parece.

Se a memória não me atraiçoa, comprei Contos do Insólito de Guy de Maupassant numa promoção da Guimarães na Feira do Livro há alguns anos atrás. Algumas semanas antes, numa sessão da Cinemateca, tinha assistido ao filme de Max Ophuls, Le Plaisir, baseado em três contos de Maupassant e que encerra com uma sábia frase: "Le bohneur n'est pas gai". Inicialmente julguei que a citação fosse de Maupassant - discípulo de Flaubert, teria herdado do mestre o talento para as frases lapidares - mas, pelos vistos, não. Mérito para o argumentista.
Mas não é a bonheur mas sim o peur o tema do meu post de hoje.


Guy de Maupassant, Contos do Insólito,
Lisboa, Guimarães Editores, 2004.

Contos do Insólito reúne 21 contos de Maupassant publicados ao longo da sua vida em revistas e outras colectâneas. O fantástico, o surreal, o macabro, enfim, o insólito é a tónica comum a todas estas pequenas histórias, formato em que Maupassant se tornou uma referência. Entre esta colecção encontramos "A Horla" ("Le Horla"), um dos contos mais célebres do escritor e, esse sim, capaz de encaixar que nem uma luva na temática do mês - o Terror.
A colectânea apresenta duas versões do mesmo conto. A primeira, publicada em 1886 na revista Gil Blas, apresenta o cenário de uma reunião científica em que o Dr. Marrande, "o mais ilustre e o mais eminente dos alienistas" apresenta aos seus colegas o mais estranho caso com que alguma vez lidara. É então que aparece um homem "muitíssimo magro, de uma magreza de cadáver, como são magros certos loucos roídos por um pensamento, porque o pensamento doente devora mais a carne do que a febre ou a tísica". Perante o grupo de cientistas, esta misteriosa figura começa a contar a sua fantástica história.
No ano seguinte, Maupassant retomou o conto e deu-lhe um novo formato. Abandonando a reunião do Dr. Marrande, que na primeira versão não serve mais do que um pretexto para o cerne do enredo, o autor concentra-se na narrativa daquele misterioso homem, sob o formato de um diário. Seria esta versão a mais célebre, publicada em 1887 no volume homónimo Le Horla.
A fórmula adoptada por Maupassant - o tudo estava bem até que... - é comum no género e fez escola até aos dias de hoje não só na literatura, como também no cinema. 
O diário começa num "dia admirável" de 8 de Maio. O protagonista vive feliz: gosta da sua terra, gosta da casa onde vive, vendo o Sena pela janela e, à esquerda, Ruão. Naquela manhã, o rio traz-lhe a imagem de navios a passar, entre eles "um soberbo três-mastros brasileiro todo branco, admiravelmente limpo e reluzente".
12 de Maio, tudo mudou. Primeiro uma ligeira febre e uma súbita tristeza. Dias depois, "um enervamento febril", as dores da alma que superam as do corpo. Os remédios da medicina revelam-se incapazes de resolver tais maleitas. À febre sucedem os terrores nocturnos e a estranha sensação de mais alguém no quarto. Inicialmente uma simples presença, depois o contacto, as mãos invisíveis que lhe tomam o pescoço e o sufocam. Só fora de casa, encontra o sossego - numa temporada no Monte de Saint-Michel, onde enceta conversa com um monge crente no oculto; nuns dias em Paris, longe da solidão. Conclui que o mal reside entre as quatro paredes do lar. Tanto assim é que, de regresso do Monte de Saint-Michel, ele encontra o cocheiro abatido, sofredor do mesmo mal: "são as minhas noites que comem os meus dias". Porém, o mal acaba por invadir o corpo e a alma do pobre homem. O "horla" torna-se ele mesmo. "Sinto-o perto de mim, a espiar-me, a fitar-me, a penetrar-me, a dominar-me". A loucura.
Resta dizer que, ao longo do conto, ficamos a saber quem (ou o que) é o "horla" e como entrou em cena. No desenlace, o homem encontra finalmente uma solução. Qual é? Leiam. Ou tentem adivinhar.
E tenham medo, muito medo.
A. Zamperini

terça-feira, 1 de outubro de 2013

BOOOO



O cliché de Outubro é difícil de evitar.
Pelo que não o faremos.

Bem-vindos ao mês do Terror.
Horror, terror e thriller…

Começarei por clássico da Trindade Monstruosa cuja introdução no cinema lhes criou uma grande fama e um nicho na cultura geral. Começa em Drácula e Vampiros, Lobisomens e Homens-Lobo (há uma diferença, não se deixem enganar pela aparente igualdade) e por fim…

Título: Frankenstein
Autor: Mary Shelley
Editora: Leya, Bis; Maio 2009;
Tradução: João Costa


Aviso:
As diferenças são bastante significativas em relação a grande parte dos filmes do mesmo tema e nome;

A novela original data de 1818, editada e reeditada e remexida pela autora aquando da sua terceira edição em 1831. A segunda edição, 1823, não teve qualquer arranjo por parte de Mary Shelley.
É a edição de 1831 que geralmente é editada hoje em dia e é aquela que a Leya entregou às suas edições de bolso.

Frankenstein, primeiro que tudo, é o Doutor, Victor Frankenstein. E a história é a do homem que cria um monstro, desvendando os segredos de como criar vida à maneira da teoria dos Homúnculos da Alquimia Medieval, mas que ao fazê-lo se questiona se o caminho que tomou o torna um análogo de Deus ou um monstro mais monstruoso que a criatura que criou.
A criação é sempre referida como “a criatura” e apesar de ver Frankenstein como seu pai este teme-o e sente repulsa pela criação. Que não é verde nem tem rosquilhas no pescoço. Na verdade descrevem-na muito pouco mas encontra-se entre algo superior ao humano e algo que ao parecer um pouco humano nos desconcerta profundamente. É também bastante eloquente.
A criatura, renegada pelo criador, tenta integrar-se na humanidade, a medo e ao ser rejeitado e perseguido múltiplas vezes, e estando Frankenstein constantemente a esquivar-se às suas responsabilidades para com a sua criação e a fugir, acaba por se tornar cínica, zangada e vingativa para com o seu pai.
Frankenstein é perseguido e atormentado pela sua criatura e pela própria consciência. E à boa maneira do Romantismo do Século XIX a história acaba em drama.

Sabine

Os filmes…

Frankenstein (1910)
Life Without Soul (1915) – Filme perdido. Não se encontram cópias embora existam registos;
Frankenstein (1931) – a adaptação mais conhecida e a que criou o monstro verde e inarticulado que povoa a cultura popular. Também a que tem maior número de sequelas, séries e extras;
Bride of Frankenstein (1935)
Son of Frankenstein (1939)
The Ghost of Frankenstein (1942)
Frankenstein Meets the Wolf Man (1943)
House of Frankenstein (1944)
House of Dracula (1945)
Abbott and Costello Meet Frankenstein (1948).
The Munsters (1964 - 1966)
Young Frankenstein (1974)
Frankenstein 1970 (1958)
Frankenstein Conquers The World, (1965) – Filme Japonês no qual o monstro é exposto aos resultados da bomba de Hiroshima e se torna um gigante que respira fogo. Ao estilo de Godzilla e criado pelo mesmo studio Toho.
Hammer Horror – a produtora tem uma série de filmes de Frankensten criados entre 1960 e 1970.
Frankenstein: The True Story (1973)
Frankenstein (1993)
Mary Shelley's Frankenstein (1994)
House of Frankenstein (remake – 1997)
Frankenstein (US TV mini-series 2004)
Frankenstein (2007)
Frankenstein: La Opera Rock (2009 Peça teatral/músical Mexicana)
Frankenstein, (2011 Peça Teatral)