quinta-feira, 6 de junho de 2013

Poesia



Há pouco tempo, um grande amigo chamou-me louca por ter dito em alto e bom som que detesto Poesia, afirmação que eu deixei sem resposta. Minutos mais tarde, no entanto, sentada à secretária a recortar as páginas da minha última aquisição na Feira do Livro 2013 – antes que se assustem, o livro ainda era do século passado, pelo que as páginas tinham mesmo que ser recontadas para o poder ler – pus-me a pensar: estará correcto afirmar que não gosto de poesia quando eu própria já escrevi no mesmo género nos tempos livres?
Confesso perante todos os leitores deste blog que os meus hábitos de leitura são relativamente recentes. Apesar de vir de uma família de ávidos leitores de clássicos, romances e contos, foi-me apenas despertada a paixão pela leitura na já não tão tenra idade dos 13 anos. Devo a minha actual obsessão (pois não sei como de outra forma posso considerar o prazer que sinto em possuir e ler vezes sem conta os mesmo livros vezes sem conta) à Câmara dos Segredos de J.K.Rowling (lido 11 vezes – sim, eu contei) e digo sem vergonha que faço parte dos milhares de seguidores que fervilhavam com o rumor de saída de um livro da saga… mas que gemiam com os filmes.
O meu amor pelo Mr. Potter acabou por amadurecer e direccionar-se mais para a arte da escrita que me fez apaixonar pelas personagens daquele mundo fantástico de Hogwarts (apesar de o tema nunca se ter esfumado de todo). Descortinei os segredos das brumas de Bradley (que nunca cheguei a terminar porque o Lancelot irritou-me), voei no dorso dos dragões de Paolini e iniciei-me nas trevas dos mundos de Bishop. Tudo isto nos tempos livres de manuais escolares e provas globais (nem acredito que ainda sou desse tempo) e até um trabalho de área de projecto sobre o Livro Enquanto Objecto no 9º ano – foi nessa altura que fiz o meu primeiro livro… com uma caixa de cereais (explico quando vos vir em pessoa).
Foi então que decidi arriscar e alargar os meus horizontes literários. Li o meu primeiro clássico, Orgulho e Preconceito. Sabemos que o nosso primeiro amor geralmente não está destinado a durar, e ainda que nunca deixe de sentir um grande apego à obra que me iniciou nas delícias da leitura, nada se poderá alguma vez comparar à profundidade do que senti depois de acabar o livro. Voltara a amar. Depois de ter devorado a obra completa – e de ter conseguido pelo menos 5 exemplares do Orgulho, em ambas as línguas - passei para Dickens e Brönte. Comecei também a ler a Nora Roberts e outros autores românticos. Até alguns exemplares da Sabrina fazem parte da minha colecção. Uma das minhas manias mais irritantes é ir procurar adaptações cinematográficas dos livros que mais gostei. Escusado será dizer que acabo a maioria das vezes muito desapontada. Mas no caso dos clássicos, a BBC conseguiu surpreender-me com as séries.
Agora é-me difícil confessar tanto como ver que os livros, que tanto adoro, estão a ganhar pó. A minha biblioteca, o meu orgulhoso santuário com mais de 200 exemplares (lembrem-se da minha famelga, não sou doida para comprar tantos livros em apenas 10 anos) ainda é o meu refúgio, mas os livros pouco saem do seu posto. As responsabilidades aumentaram e o tempo diminuiu. O tempo em que me trancava no quarto até acabar um bom livro já faz parte da História. Ainda leio, mas apenas nas horas vagas.
Mas tudo isto para dizer que não gosto de poesia. No meio de toda esta cacofonia de papel, não tenho um único exemplar cujo conteúdo rime minimamente sequer que não tenha sido comprado especificamente como obrigatório para as aulas de Língua Portuguesa. A maioria dos poemas que tenho não passa para além das páginas dos livros de escola. Tenho um ou outro que escrevi, como trabalho de casa e que admito ter gostado de escrever em momentos de inspiração mais metafísica, mas que considero serem, numa palavra, maus.
A prosa sempre esteve no meu coração, mesmo antes de começar a ler. Sou contadora de histórias por natureza e não trovadora. Gosto de Fernando Pessoa e de certos poemas de Cesário Verde. Mas de forma alguma - e peço desde já imensas desculpa a todos os poetas estrondosamente talentosos que sei que existem no mundo e ao meu amigo - considero um investimento pessoal livros cujo interior tenho que queimar neurónios para perceber ou para desvendar algum sentido (que pode nem sequer existir) quando esses neurónios me fazem e sempre fizeram muita falta.

Austen

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