quinta-feira, 30 de maio de 2013

Os três mosqueteiros



 Título Original: Les Trois Mousquetaires

                     Autor: Alexandre Dumas

Editora: Publicações Europa América

Páginas: 672


Uns dos grandes clássicos da literatura que todos deviam ler. Este conta a história de D'Artagnan um jovem da Gasconha (França) que parte para Paris com o sonho de se tornar mosqueteiro na corte de Luís XIII. Ao chegar à capital francesa conhece Athos, Porthos e Aramis que irão tornar-se seus grandes companheiros de aventuras ao serviço do rei e da rainha Ana d´Áustria, contra o cardeal Richelieu e Milady The Winter. É uma obra que retrata uma das amizades mais leais da literatura.
Escrito com uma narrativa frenética que prende o leitor à história a cada capítulo desenvolvendo várias tramas entre as personagens.

Este livro foi editado em 1844 tendo sido primeiro lançado em versão de folhetim. Hoje esta obra esta disponível em várias línguas sendo um dos livros mais adaptados para filmes, séries, teatro, animações, entre outros.   
Outro grande ponto é o desenvolvimento das personagens. Estas apresentam diferentes facetas e personalidades; escondem algo sobre o seu passado o que se torna importante na construção do seu carácter. Isto é determinante para mostrar como cada um reage a uma determinada situação e por que razões se dão tao bem enquanto grupo.

É um grande livro que leva o leitor a perder-se pelas ruas de Paris com estes quatro amigos, a viver com eles as suas aventuras e, de alguma maneira, sentimo-nos o quinto mosqueteiro de tão envolvidos que ficamos com a história.

« un pour tous et tous pour un »


Winter

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Mulheres

8 ½, de Fellini. Guido está sentado na esplanada com a irmã e a mulher. Óculos escuros, fato perfeito, cool até dizer chega (é o Mastroianni, porra!). Subitamente, uma outra personagem entra em cena. É Carla, a amante. Excessiva e confiante, ela senta-se numa mesa próxima. A irmã tagarela. "Março ou Abril?". Alguém pergunta porquê. "Só pode ser Carneiro" - responde. Guido ouve impávido os protestos da mulher. Nada que o atormente. Recosta-se na cadeira e fantasia: a mulher levanta-se e vai ter com a amante que, entretanto, começara a trautear uma modinha. "Senhora Carla, que bem canta!". Segue-se uma amena converseta a passo de dança. Dois para cá, dois para lá, mais uma voltinha. Guido continua a fantasiar. Entra então na casa onde vivem todas as mulheres da sua vida. A mulher, a irmã, a mãe, o primeiro amor, a prostituta do bairro, as amantes. Em suma, o pesadelo de qualquer homem. Mas não, esta é a fantasia de Guido... 
Não conto mais, vejam o filme. Merecem as chamas do inferno se não o fizerem. Por isso, para salvar um pedacinho das vossas almas, deixo aqui um excerto da cena.



Perdoem-me o cliché, mas é verdade: os homens não percebem as mulheres. Excepto Tolstoi. Admito, K. De certezinha que ele teria uma vagina escondida algures. 
Mas a verdade é que grande parte dos escritores (homens) revelam inapetência em transformar em palavra o pensar e o sentir feminino. Mesmo em obras de autores que admiro profundamente vejo sucederem-se personagens femininas planas, estereotipadas, sem autonomia ou simplesmente retratadas como seres vindos doutro planeta, quiçá com um plano secreto de castrar todos os filhos de Adão e conquistar o mundo. Hélas! Ou Elas, talvez!
Em London Fields, Martin Amis joga na perfeição com esta ideia. Ele cria Nicola Six. Sexy, misteriosa, cabra. Em suma, a fantasia de qualquer homem (julgo que do Guido, inclusive). 
Nicola sabe que vai morrer. É um dom que a rapariga tem. Logo a abrir o livro, ficamos a saber quem será o assassino. Nicola também sabe. Mas ela não é a vítima. Ela é a vilã, a mão que move todas as peças do xadrez, as brancas e as pretas. E a vítima é o assassino, um chico-esperto que afinal (como todos os chicos-espertos) é estúpido como uma porta. Esta troca de papéis continua no próprio escritor, ou melhor, naquele que nos é apresentado como sendo o escritor, também ele personagem: Samson Young, escritor falhado, com os dias contados, a quem, inesperadamente, cai no colo uma história "unitária, dramática e muito vendável". Acontece que, ao contrário do que seria natural, o escritor nunca chega a controlar a história. A história controla-o a ele. Ou melhor, é Nicola quem controla tudo. Afinal, ela é a Mulher e ela tem "poderes": 


"Todas as mulheres cujos rostos e corpos mais ou menos correspondem ao molde contemporâneo têm alguma noção desses privilégios e magias. Durante o seu esplendor, o seu óptimo, por mais breve e relativo que seja, ocupam o centro erótico. Algumas sentem-se perdidas, algumas cercadas ou oprimidas, mas ali estão elas, numa floresta e adoração de dimensões chinesas e com a dureza da teca. E com Nicola Six o apelo da espécie translada-se, intensifica-se fantasticamente: chega-lhe sob a forma de amor humano. Tem o poder de inspirar amor, por assim dizer, onde quer que seja. Nada de pôr a chorar homens fortes. Empedernidos pacifistas abriam caminho a ombro pelos motins de rua para estarem em casa, caso ela telefonasse. Pais de família abandonavam filhos doentes para esperar à chuva, à porta do prédio dela. Construtores civis e banqueiros quase analfabetos enviavam-lhe sonetos. Empobreceu gigolôs, castrou machões, hospitalizou demolidores de corações. Nunca mais eram o mesmo, perdiam a cabeça. E o que ela tem (que tem ela?), o que ela tem é que tem que receber esse amor e devolvê-lo sob a forma oposta, não apenas anulado, mas morto. O carácter é o destino: e Nicola sabe onde está o destino."



Martin Amis, London Fields, Lisboa, Teorema, 2009.
(ed. original: London Fields, London, Jonathan Cape, 1989)

A. Zamperini

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Livros na Tela



Actualmente, já quase não podemos falar num clássico literário sem fazermos referência às suas infindáveis adaptações cinematográficas. Vezes sem conta vemos anúncios de estreias de filmes baseados em histórias inicialmente imortalizadas em papel. A ordem estipulada para o público é geralmente ver o filme e ler o livro. Para aqueles que gostam de criticar (e fica ao critério de cada um se o faz construtiva ou destrutivamente) a ordem é muitas vezes invertida em favor do prazer do folhear as páginas, sentir o peso, a textura e o perfume da cola, e mais tarde do reconhecimento de situações e personalidades nas imagens pixelizadas do ecrã. Os livros baseados em filmes terão a sua vez neste blog.
Este é um fenómeno cada vez mais frequente, especialmente presente na faixa etária entre os 13 e os 19, idade em que um indivíduo está mais interessado no desenvolvimento – ou ruína como muitas vezes acontece – pessoal. É uma idade em que se deixam as Cinderelas sem sapatos e as Belas Adormecidas em coma pela maquilhagem e alteres (incluamos, por favor, ambos os sexos na equação). A entrada na vida universitária força em grande medida a leitura dos clássicos o que, sejamos francos, em nada ajuda a sua promoção aos olhos da humanidade juvenil. Por fim, o azafamado quotidiano do adulto, entre interesses de carreira e responsabilidades familiares, impossibilita que o ser humano tenha sequer tempo para se coçar – quanto mais abrir um livro – até à idade da reforma (ou não), altura em que, utilizando uma linguagem mais corriqueira, uma pessoa já não tem pachorra para aturar ideologias e preocupações alheias, mesmo que estas provenham de personagens fictícias.
Tudo isto em conta, a adaptação para a tela de obras literárias emblemáticas (mais uma vez, ou não) tem a grande vantagem de permitir um acesso mais directo e rápido – tendo em conta que há quem passe horas a ler um parágrafo – a aspectos culturais de outra forma virtualmente inacessíveis ao público em geral. Reconheçamos que a geração mais jovem – que a minha, pelo menos – não teria conhecimento da vida miserável de Fantine não fosse a espantosa representação de Anne Hathaway n’Os Miseráveis de Tom Hooper.
Posto isto, é também necessário reconhece que são em maior número as adaptações severamente criticadas que as louvadas. Não sei o que terá pensado Rick Jordan, mas quanto a mim, a desilusão foi grande ao ver o Percy Jackson de Chris Columbus. Em suma, do livro estavam apenas presentes as personagens principais. Anabeth era mais conflituosa que inteligente, Cronos (o verdadeiro vilão da saga inteira) nem apareceu e, perdoem-me o latim, que ***** estava a Perséfone a fazer no filme?
Faço por todas estas razões um apelo aos cinematógrafos, realizadores guionistas e pessoal ligado ao cinema que, no presente ou no futuro leia este post: se vão adaptar livros com sucesso, clássicos ou não, para a Sétima Arte, não minem os campos que a Sexta tenta desbravar. Podem dar os tiros que quiserem nos vossos próprios pés, só não acertem na Cultura.

Austen

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A Princesa Virgem




Título Original: Virgin: prelude to the throne

                     Autor: Robin Maxwell

Editora: Planeta Editora

Páginas: 278



Elisabeth Tudor é conhecida pela rainha que casou com Inglaterra, considerada por isso a rainha virgem. Foi a primeira mulher a reinar num mundo onde os homens detinham todo o poder. Apesar de ser parecida com Henrique Tudor na aparência física e na personalidade forte, Elisabeth tinha também traços de sua mãe, Ana Bolena, como a perspicácia.
Nesta obra Robin Maxwell dá-nos a conhecer a adolescência de Elisabeth, a relação desta com a sua madrasta Catherine Paar e o seu padrasto Thomas Seymour. Elisabeth debate-se com as questões como o amor, os conflitos políticos e o receio de perder tudo aquilo que lhe é querido. Maxwell explora um episódio da vida da futura rainha que muitas vezes é ignorado (ou é dada pouca importância) pelos seus biógrafos. Elisabeth, seduzida pelo seu padrasto Seymour, pode ter tido relações sexuais… Terá sido violação? Terá ela consentido? Ou tudo não passou de uma mentira? Nunca saberemos o que verdadeiramente ocorreu neste período da vida desta rainha, por isso a autora recorre à sua própria imaginação levando o leitor numa viagem que mostra o lado manipulativo da corte inglesa do século XVI . Por fim a princesa amadurece, deixando de ser uma rapariga ingénua, mostrando a sua inteligência e astúcia que fazem dela uma verdadeira Tudor.


Winter

quinta-feira, 16 de maio de 2013

O valor insaciável do suor





Título: O Sol dos Scorta
Autor: Laurent Gaudé
Editora: ASA Edições (Setembro de 2005)
Páginas: 224

A indelével maldição da sede, a necessidade de construir incessantemente um mundo feito à nossa imagem, a força nefrálgica da loucura, da obsessão por destruir todos os traços que nos rodeiam para que, através das suas cinzas, se tornem nossos, a fome eterna que habita cada um perante o desafio de viver, insufla a existência autêntica de cada um. A maldição dos Scorta é a prova de que a humanidade persiste, que suar é a única forma de o homem se superar e de se reencontrar com o apelo visceral da terra.



Recebi O Sol dos Scorta, das mãos de um familiar, quando terminei a minha licenciatura. O livro não era novo, já tinha sido lido e folheado por outrem, outros olhos já o tinham percorrido e meditado, deixando bem claro que aquelas páginas possuíam vida própria. Estando eu a iniciar um novo capítulo na minha vida, não o poderia ter lido em melhor hora: também eu me encontrava numa nova encruzilhada e possuía uma sede insaciável por começar a desbravar o meu próprio caminho. Naquelas páginas foram-me apresentadas quatro gerações dos Scorta e, com cada uma, aprendi o autêntico valor do suor.

Todo o tempo é desenhado através de partidas que se desenrolam, inexoravelmente, em chegadas. Também assim começa a história dos Scorta, quando, num dia quente, Luciano Mascalzone regressa à sua terra natal, após vários anos de prisão, para se apoderar finalmente daquilo que alimentara a sua loucura. O retorno às raízes incita o impulso primordial de satisfazer a obsessão que impulsiona a vida; todos existimos projectados para o futuro, nessa fronteira do porvir, com os olhos fitos nesse ponto almejado que alimenta a nossa sede, sendo o presente apenas o meio, a construção que nos aproxima dessa visão a cada passo. Com a sede saciada, a origem dos Scorta chega ao seu fim sobre as pedras quentes que serão o palco da sobrevivência de todas as suas gerações vindouras: a aldeia de Montepuccio. Nesse espaço, decorre a história dos Scorta, iniciada pela loucura de Rocco (filho de Luciano), que através da tirania ergue um império que, no fim da vida, devolve ao povo da terra para se redimir, dando a oportunidade aos seus filhos de começarem do zero. É aqui que respiramos o suor da sua descendência, Domenico, Giuseppe e Carmela, que adoptam o jovem Raffaele como Scorta, mostrando que a família transcende o sangue. Erguem-se do zero através da cumplicidade que os une, trabalhando dia e noite para alcançarem o seu lugar, firmando mais uma vez a importância de se ser um Scorta. Aquela aldeia no Sul de Itália ganha vida e desempenha um papel activo na existência daqueles que preenchem o seu vazio, contornando a fantasia com a pura realidade da labuta diária, persistindo em construir de raiz, com o próprio suor, o motor da maldição a que se encontram destinados. É nos meandros deste constante cansaço que se desenha a felicidade, no convívio e no riso dos que amamos, na humildade de uma refeição partilhada, na paz momentânea de descanso à sombra de uma oliveira, no acto simples de contar histórias a alguém e partilhar fragmentos de vida, distinguindo-nos dos animais. É também nesses instantes que se vive a intensidade da relação entre os Scorta e a igreja, sempre em constante tensão, assim como com todos os habitantes. Contudo, em ambos os momentos, o esforço é uma constante, sendo o sinal de um autêntico saborear da existência: «É preciso aproveitar o suor […]. Depois, acaba tudo muito depressa, acredita em mim.»
Novas gerações de Scorta erguem-se, sempre movidas pela maldição da consciência de que a vida tem de ser construída, sempre retornando à raiz e erigindo impérios do nada. A loucura dos Scorta é a sabedoria de que nada vale a pena sem ser saboreado na plenitude do suor e de que a autêntica existência se manifesta nos instantes da realidade que se move sempre como o pó da terra.


K. Dalloway

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Kilts e Espadas


Título: O Guerreiro Highlander
Autor: Monica McMarty
Editora: Planeta
Tradução: Irene Daun e Lorena; Nuno Daun e Lorena

Aviso: Romance não existe na realidade. É apenas uma ferramenta para vender livros como este uma vez que, novamente, a realidade vale muito pouco.

Romance. O género das pessoas que sentem o coração solitário. Ou simplesmente estão demasiado desiludidas com o que as rodeia. Ou aborrecidas. Ou simplesmente gostam de ler algo que as entretenha e não venha com um questionário escolar ou um selo de intelectualidade arrogante. Romance Histórico. Quase roça a fantasia mas ainda é «real» o suficiente para aqueles que não querem ser vistos como demasiado distantes do mundo onde estamos enraizados. Pode não ter dragões mas tem cavaleiros quando o tempo leva ao período medieval.

Pega-se numa ou em várias figuras do domínio histórico cujos factos e existência foram confirmados ou falados em lendas ou em livros da especialidade, aplica-se um face-lift histórico e um upgrade heróico, uma heroína com personalidade vontade de se destacar da sociedade factualmente patriarcal e cria-se o desafio, a caça, sedução, traições, política e trama.

A maior parte das vezes é esta a fórmula seguida. Nalguns autores a personalidade é subtraível no grande esquema da trama, para mal daqueles que os procurem. E por alguma razão é esse vazio que atrai alguns leitores. Os porquês escapam-me, mas as vendas são o que importa pelo que a prática se perpetua no ramo. Vendas dependem de leitores e é-se então forçado a editar o que garante a sobrevivência.

A própria autora acrescenta uma nota, colocada pela edição no após a história, explicando a origem da personagem e os factos históricos que rodeiam e dão origem ao elenco e enredo, separando a realidade da sua ficção, providenciando ao leitor a oportunidade de encontrar a História por si mesmo, mencionando a pesquisa levada a cabo. A maior parte deles ou não se importa em avisar os leitores, crendo-os inteligentes ou curiosos o suficiente para saber ou procurar, ou concede-lhes essa cortesia.

Escócia, 1608, kilts, corpetes, espadas, cavaleiros, combates, homens atraentes, publicidade do William Lawson’s… Algo por esta linha.

Jamie Campbell, escocês, guerreiro, homem do rei, clã rival.
Caitrina Lamont, herdeira de clã, dama, teimosa, capaz, amada.
Uma série de acontecimentos não tão felizes, um clã destruído, Caitrina culpa Jamie que não tem exactamente culpa, mas sendo um romance precisa de drama para abafar os corações cor-de-rosa e vermelhos que flutuam no ar. Meio, meio, meio, acontecimentos, mais drama, mais beijos, mais sexo e amor triunfa, tudo acaba bem.

Desviando o assunto nestes últimos momentos de escrita coloco a questão dos finais felizes. Na minha visão de leitora todo o sofrimento tem de ter recompensa, um final feliz ou agridoce mas com justificação plausível e que deixe o leitor satisfeito. A realidade já é má o suficiente sabendo que a luz ao fundo do túnel é apenas um comboio em aproximação prefiro não gastar o meu tempo a ler mais uma coisa que me vai deixar de humor miserável.

Outros livros do género pela autora:
(Traduzidos)
O Highlander Indomável

Sabine

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Diz-me o que lês

Aviso à navegação: não sei, nem nunca soube, escrever sobre livros. Quer isto dizer que nunca consegui avaliá-los de forma crítica, pensar na forma, na construção do enredo, no estilo. Resolvi lavar as minhas mãos e deixar essa tarefa aos críticos literários, essas perspicazes criaturas. A minha relação com os livros escapa à razão. Leio-os como quem come uma sobremesa. O que importa como foi feita, o que a compõe ou quem a fez? Tudo está no sabor, no sentir. Os livros são também memórias. Não as do autor, mas as minhas. Os bons recordo, os maus recalco. E confesso, sem arrependimentos, nem penitências, que alguns acabo por roubar ao autor e torná-los meus. Então, as personagens tornam-se velhos conhecidos que partilham comigo alegrias, mágoas, aventuras, humilhações, vitórias. Creio que o mesmo acontecerá a outros leitores (ou assim espero, a bem da minha sanidade mental!), para os quais a biblioteca conta mais a sua história do que as dos Ulisses, das senhoras Dalloways ou dos Raskolnikovs perdidos nas folhas de papel.
Eis o meu B.I. literário. Sou uma leitora tardia. Lá em casa eram poucos os livros, salvo os do Círculo Leitores, comprados mais para calar a insistência dos vendedores do que para ser lidos. A leitura não me encontrou na infância, quando preferia as Barbies e o Spectrum 128k (sim, sou produto dos 80). Só na adolescência. O Eça tirou-me a virgindade literária – não sei se lhe agradaria essa imagem... – e durante os meus primeiros tempos de leitora assídua percorri-lhe uma boa parte da obra. Depois, resolvi recuperar o tempo perdido e agarrar-me aos clássicos. Aos 16 apaixonei-me por Julien Sorel, agradecendo o encontro a Stendhal. Até encontrei um Sorel de carne e osso, mas isso é outra história, talvez para um post futuro. Mergulhei no realismo mágico com García Marquez, vi a guerra pelos olhos de Hemingway e Faulkner levou-me até ao Sul. Kerouac, Camus, Kundera, e olhava para os meus colegas do liceu com a arrogância tola de “vocês sabem lá!”. Outros acompanharam as minhas dores de crescimento, entre a mesinha de cabeceira e a mochila da praia.
Hoje abrandei o ritmo das leituras. Compromissos profissionais obrigam-me a afundar os olhos em páginas de prosa de qualidade bem inferior. Porém, os livros, os bons, continuam a fazer parte da minha vida e a interferir nela. Mas escrever sobre eles...

A. Zamperini

domingo, 5 de maio de 2013

O Diário Secreto de Maria Antonieta


A mais famosa (para não dizer celebre e irritar muita gente) rainha de França tem vindo a ser demonizada desde que casou com Luís XVI. Comentários como “Que comam croissants” - que se diz ser a resposta que deu quando o povo gritava que não tinha pão às portas do palácio -  tornaram-se mantras nos livros de história que retratam uma época revolucionária, tanto a nível europeu como americano, independentemente da sua veracidade.
Mas Carolly Erickson agarra a rainha caída em desgraça e dá-lhe, nas páginas de um diário secreto fictício, uma nova voz. A rainha que perdeu literalmente a cabeça renasce, como que a fénix das cinzas, de um passado obscuro para a luz do mundo leitor actual numa obra que a retrata como uma mulher que lutou contra a discriminação contra a sua nação de origem, as intrigas de uma corte mesquinha e hipócrita estagnada repleta de exageros, infidelidades e insensatez, e da melhor forma que podia tendo em conta as suas circunstâncias, contra o completo desabar do povo de França.
O Diário Secreto de Maria Antonieta inicia a história da rainha, então princesa, com a morte da sua irmã e a decisão da sua mãe, a Imperatriz da Áustria, que selou o seu destino. É uma obra maravilhosa, recheada de factos históricos e obscuros. Dá-nos também um espelho da vida na corte francesa do século XVIII, uma vida cheia de comédia, frustrações, dramatismo e infelicidades, tudo do ponto de vista da rainha. A História é escrita pelos vencedores, nunca pelos vencidos. Mas ao darmos uma oportunidade de falar aos vencidos, somos surpreendidos com quantas vezes estes nos abrem os olhos para novos pontos de vista. E O Diário Secreto de Maria Antonieta é um exemplo flagrante do velho ditado que, tendo em conta a sua natureza não deixa de ser irónico: Nunca se deve julgar um livro pela capa.



Austen 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

O diário secreto de Ana Bolena




Título Original: The Secret Diary of Anne Boleyn

Autor: Robin Maxwell

Editora: Planeta Editora

Páginas: 320


Ana Bolena é talvez das figuras mais marcantes da história inglesa. A mulher que fez Henrique VIII separar-se da Igreja Católica fazendo da Inglaterra um país protestate e por consequência um alvo para os outros países da cristandade; que conseguiu que se divorciasse de uma mulher nascida princesa e criada para ser rainha, Catarina de Aragão; e, por fim, foi condenada à morte pelo seu próprio marido, tornando-se assim mais uma das mulheres de Henrique Tudor.
A história começa com Elisabeth que recebe o diário da sua mãe, Ana Bolena.
 Elisabeth teme casar e ter um homem a governar o seu reino e a sua vida. Ana no seu diário escreve a sua história desde do momento que conhece Henrique, se apaixona, as intrigas criadas pelo seu pai e irmão para que ela subisse ao trono, passando pelo nascimento de Elisabeth e chegando a queda de Bolena. Ana escreve o diário para Elisabeth pedindo-lhe que nunca se deixe governar por homem nenhum.
Neste livro Robin Maxwell descreve uma Bolena normal, uma mãe extremosa, longe da monstruosa bruxa de seis dedos caracterizada na altura.
O livro editado pela Planeta Edtirora deixa muito a desejar sobre a sua revisão, encontrando-se vários erros ortográficos que demostra alguma falta de cuidado com o processo de edição do livro que demorou doze anos a ser escrito. Mas, não deixa de ser uma boa obra para os amantes da era Tudor.

 
Winter