segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Barbárie Civilizacional



Título: The Conan Chronicles
Autor: Robert E. Howard
Editora: Orion Publishing Group


Aviso:
A fantasia não é um género em que todos concordem com a mesma fórmula;

Tolkien e o Senhor dos Anéis são vistos como o que de mais sagrado existe na cultura do High Fantasy e da literatura fantástica. E para muitos nos círculos do que é fantástico dizer que não se gosta ou algo de mau acerca da obra de J.R. Tolkien é um sacrilégio de proporções inimagináveis. Pois aqui vem a blasfémia. Tolkien é chato. Aborrecido. Demasiado focado em criar a história da Terra Média para criar personagens mais cheias. Tudo em Tolkien revolve em redor do MUNDO, da HISTÓRIA, da TERRA MÉDIA, digamos da antropologia e sociologia da fantasia. Vou mais longe no meu pontapé à relíquia e afirmo que os filmes me fazem acreditar e ter mais interesse nas personagens do que os livros. Geralmente não ocorre alguém afirmar que prefere o filme…
Mitigando as afirmações anteriores encontra-se o facto de ter a noção de que adoro os filmes porque tenho as informações do mundo que os livros me transmitiram. Por outro lado isto relega os livros a “manuais de turista”. O efeito que Tolkien exerceu na fantasia foi tal que muitos autores sentem a necessidade de começar o seu trabalho na área do fantástico com um mundo já cheio em que todos os detalhes do passado já devem estar escritos e cimentados, que devem existir línguas e canções. Para um mundo rico esses elementos devem "existir", ser mencionados masmo que não se tenham criado na realidade tangível, mas em Tolkien dominam e afogam tudo ao ponto de se tornar tedioso.
Há manchas deste tédio também em George R. R. Martin mas diluídas em personagens complexas, acção intensa e interessante, intrigas complexas. Simplesmente há uma pequena tendência para, de quando em quando, se perder a falar do mundo. Compreensível mas o que queremos saber é quem morre a seguir.

Na fantasia, opinião de Sabine, quem governa a acção, a história interessante, um mundo rico pintado com pinceladas largas, rápidas e brilhantes, abrangendo o horizonte ou mencionando o detalhe pertinente, que nos deixam interessados e a adivinhar é Robert E. Howard, mais especificamente nas pequenas histórias que relatam as viagens e aventuras de Conan o Bárbaro. O foco encontra-se no bárbaro que viaja como mercenário através da civilização, na sua reacção às intrigas e como escapa de batalhas, armadilhas, feitiçaria, monstros e governos. Livra-se do peso do mundo, focando-se apenas em si, nas suas necessidades e sede de aventura.
Não tem uma demanda para lá do combate e liberdade.
Não tem uma lealdade que não a si próprio o que não o impede de agir quando crê que algo se encontra errado. Ou lhe pagam o suficiente para se importar.
Acompanhamo-lo ao longo do tempo e guerra, da história em que o adolescente primeiro sai da Ciméria e entra em Zamora, na cidade dos ladrões, até ao momento em que através da espada domina o mundo. Bárbaro, ladrão, rei, conquistador…
A imagem de Conan é icónica hoje em dia e ironicamente completamente desfasada da personagem original. Na verdade a única instância em que ele se encontra de tanga nas histórias que Robert E. Howard escreveu, é exactamente em The Tower of the Elephant, a sua chegada a terras civilizadas. Nas histórias que se seguem adopta as armas e armaduras que mais lhe convêm. O mundo de Conan, a Hyborian Age, tem a sua própria história, uma forma de contar como se chegou àquela era, uma amálgama das culturas místicas e reais da história do mundo, mencionando desde Atlântida e Lemúria aos Pictos e Nords (vikings). E mesmo no conto das História do Mundo, onde tantos se perdem na vastidão, o sabor da acção e conflicto, do movimento e energia transparecem. Mas, sublinho, a História da Era Hyboriana é uma história em separado. Não a ler não prejudica a nossa visão do mundo de Conan. Não há uma necessidade do passado para se compreender o presente e quando a há é mencionada. Uma linha que refere que os Atlantes desapareceram. Que os Lemurianos regrediram. Que a magia tem grandes raízes em Shem. Por vezes não é preciso muito mais para se ver.

Larguem os preconceitos sobre o ícone e descubram o verdadeiro bárbaro como foi descrito por Robert E. Howard.

Sabine

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