terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O fogo que arde sem se ver


Fevereiro está a chegar ao fim e continuo a tentar exacerbar o meu lado mais romântico. Eu, que na alma trago a calma, a calma de um jazigo (desculpe-me Sr. Garrett), não vou lá com a seca prosa. Tentarei, então, a poesia e deixar-me-ei levar por um peso pesado. Camões.
Não vou enveredar pela epopeia. Até porque a Ilha dos Amores parece ser mais inspiradora para corações (ou mais abaixo) masculinos. Fiquemo-nos pela lírica camoniana.
Dirigindo-me, em particular, às caras leitoras, proponho uma outra perspectiva, bem pouco literária. Daria uma voltinha com Luís Vaz?

Que de tanta estranheza sois ao mundo
Que não d'estranhar, Dama excelente,
Quem vos fez, fizesse Céu e estrelas.

É questão para dizer: Rapazes, homens, trolhas, aprendei!

Quem vê senhora, claro e manifesto
o lindo ser de vossos olhos belos, 
Se não perder a vista só de vê-los,
Já não paga o que deve a vosso gesto.

Nada como um homem com bom sentido de auto-ironia. Afinal, quem precisa de dois olhos? Não é como os rins?...

Verdes são os campos
Da cor do limão,
Assim são olhos
Do meu coração.

Está bem! Não abusemos. Ou melhor, não batamos mais no ceguinho...

Se tanta pena tenho merecida
Em pago de sofrer tantas durezas,
Provai, Senhora, em mim vossas cruezas,
Que aqui tendes uma alma oferecida.

Nela experimentai, se sois servida,
Desprezo, desfavores e asperezas,
Que mores sofrimentos e firmezas
Sustentarei na guerra desta vida.

Eis um registo que agrada a alguns (e até vende bastantes livros). Luís, o cativo. Tê-la-ia cativa?

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio,
O mundo todo abarco, e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto:
Da alma um foge me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio;
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao céu voando;
Num'hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar um'hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.

Pessoalmente, talvez...
A. Zamperini

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