domingo, 16 de fevereiro de 2014

As Pupilas do Senhor Reitor

Desde pequena que oiço falar deste livro. A minha mãe leu-o, o meu pai leu-o, acho que as minhas tias o leram: enfim, toda a gente da geração anterior à minha o leu. Estando vocês familiarizados com o facto de eu não ter começado a ler por gosto antes dos 13 (ver posts mais antigos, por favor) também tenho a certeza que não estranharam o porquê de, ser eu uma amante de clássicos, nunca ter pegado neste livro até hoje.
Passo a explicar as minhas razões: em primeiro lugar era um clássico. Sim pode soar estranho vindo de minha agora, mas na altura o máximo que eu lia era A Turma da Mônica (sim, Mônica, não Mónica) do Maurício de Sousa. Clássicos eram sinónimo de TPC e, sinceramente, também nunca fui grande fã deles. Em segundo lugar, sendo um livro tão publicitado pela geração mais velha surgia no meu cérebro como algo ou enfadonho ou lamechas demais e, honestamente, nunca gostei de teatro a mais. Afinal, se ainda hoje critico o Raoul d'O Fantasma da Ópera, é porque amores de perdição e acessos emocionais nunca tiveram muito a ver comigo. E finalmente, acho que as novelas portuguesas ajudaram um pouco neste ponto, a realidade nunca me parecia muito bem retratada naquilo que lia. As copiosas lágrimas da Madalena de Frei Luís de Sousa, a paixão proibida do Eduardo d'Os Maias e mesmo o José Saramago (não vale a pena especificar um livro, todos eles transmitem as mesmas ideias). Não é que não sejam excelentes autores, pois depois de os ler, admito que contribuíram bastante para o meu presente amor pela leitura. Mas na época era uma miúda que demorou CINCO meses para terminar A Menina do Mar de Sophia de Mello Breyner Andresen, quanto mais se tivesse que ler o Falar Verdade a Mentir do Almeida Garrett? E aproveito para confessar que nunca cheguei a terminar O Principezinho.
Mas a verdade é que há dois anos atrás, estava a passear na Feira do Livro e numa das bancas de alfarrabistas vi o livro, em capa dura de couro, ainda com as páginas por recortar e pensei 'porque não?' Afinal, há muito que o preconceito contra os TPCs ficara para trás e era então uma amante de Charles Dickens e Jane Austen, ainda que a Literatura Portuguesa ainda não faça necessariamente do menu diário. Mas a verdade é que achei que devia começar por algum lado.
Digo já que em lamechismos, o livro não desapontou, tanto que vale a pena fazer menção dele tão perto do São Valentim. As Pupilas do Senhor Reitor retrata a história que em enredo se assemelha ao do Sonho de uma Noite de Verão do Shakespear, mas com muito menos comédia. Tudo começa quando o reitor descobre o namoro entre Guida, uma pastora e Daniel, o qual é enviado para o Porto para estudar (cliché alert) Medicina, quando volta, perdesse de amores pela irmã dela, Clara que não só está prestes a tornar-se sua cunhada, mas que parece retribuir em parte os seus sentimentos. No meio disto tudo não consegui parar de pensar em como as Pupilas podiam não referir-se apenas às duas raparigas, mas também aos olhos do reitor que tudo vêm.
E mais não digo para não estragar o encanto. Um clássico relativamente leve para quem ainda não leu, ler. Por alguma razão, o Ministério da Educação ainda não o incluiu nos seus programas educativos. Precisam de mais incentivos, meninos e meninas?

Austen

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