sábado, 4 de janeiro de 2014

A Rapariga Que Roubava Livros

Título: A Rapariga que Roubava Livros
Autor: Markus Zusak
Editora: Presença (Fevereiro de 2008)
Páginas: 468
«Eu desejava dizer muitas coisas à rapariga que roubava livros, acerca de beleza e brutalidade. Mas o que podia eu dizer-lhe acerca dessas coisas que ela não soubesse já? Queria explicar-lhe que estou constantemente a sobrestimar e a subestimar a raça humana – que raramente me limito apenas a estimá-la. Queria perguntar-lhe como podia a mesma coisa ser tão horrível e tão gloriosa, e as suas palavras e histórias tão nefandas e tão brilhantes. Nada disto, contudo, saiu da minha boca.» Considerações da Morte.

O meu ano terminou com a história de Liesel Meminger, narrada, nem mais nem menos, pela cansada voz da Morte que percorre a terra numa era de devastação e decadência humana: o nazismo. Por entre actos de amor e de ódio, esta estranha narradora vislumbra o mundo dos humanos através de cores, centrando-se depois naqueles que carrega e no peso do seu último suspiro. No meio de tanta perda, encontra a Rapariga que Roubava Livros, uma menina que tudo perdeu e tudo tenta resgatar: o amor da família, a segurança das palavras, o som mudo de um acordeão abandonado, um beijo suspenso, uma janela aberta para uma biblioteca, folhas pintadas e reescritas, uma cave aquecida por um abraço; enfim, um espaço seu, um tempo merecido e inviolável. Mas os obstáculos intransponíveis da raiva instalada roubam-lhe esses momentos e é por isso que ela decide tomá-los de volta, resgatá-los um a um.
Esta é a paixão de Liesel, que encontra um lar numa nova família, que lhe ensina o poder das palavras. Só alguém que conhece a impotência de não ter palavras é que consegue vislumbrar o seu verdadeiro valor. Para se salvar, rouba livros que a acompanham e que acabam por salvar outros. O que mais me impressionou na mágica escrita de Zusak é a sua capacidade para colocar lado a lado a visão de Liesel e da Morte, de explorar o futuro antes de acontecer e vermos todos os pormenores do percurso que levaram ao seu desfecho, construído por acções humanas. O leitor consegue ver que um pequeno passo pode mudar completamente o destino de todas as personagens, mesmo sem elas o saberem. Conseguimos ver como a simples acção que condena uns, salva outros e que um mero abraço pode fazer com que um humano se transforme novamente numa pessoa. Eis a magia da frágil liberdade humana, cujas acções insondáveis destroem, mas também salvam e percorrem caminhos que ecoam por todas as ruas e entram em todas as portas.
Uma leitura que nos faz ver o mundo de forma diferente, olhando para um acontecimento tão nefasto que, apesar de parecer estar a anos-luz, teve lugar ainda ontem. Por mais que tentemos esquecer, esta visão persegue-nos e é imperativo que reconheçamos o peso do poder das palavras.

O filme baseado neste livro vai estar nos cinemas a 23 de Janeiro e é com grande entusiasmo que aguardo essa data. Vai ser interessante ver a Morte com voz masculina ao fim de tantas páginas como mulher, mas a ceifa permanecerá.
Aqui fica o trailer:



K. Dalloway

1 comentário:

  1. Bom...
    O que dizer deste livro... estava a ir tudo a 1000 maravilhas quando Markus Zusak decide, a meio do livro, contar-nos um grande spoiler.
    Continuei... esperando AMAR o final... Mas Markus estraga-me de novo a surpresa.
    Eu sei que teria AMADO aquele final... Porquê Markus??? Porquê decides estragar o impacto contando-nos o que vai acontecer umas folhas antes? Era tão desnecessário.
    Apesar de tudo.. é um livro que vale muito a pena. Isso é indiscutível! Agora que fiquei desiludida isso fiquei...
    Talvez esteja a ser demasiado exigente com o livro.. quem sabe. O facto de ter passado a infãncia a ler e a ver filmes relacionados com a 2ª Guerra Mundial não deve ter ajudado muito.
    Apesar destas minhas palavras e da puntuação que lhe dei (é quase um 4,5 mas não chega lá)... acho que o devem ler!! Valeu a pena!

    PS. estou LOUCA por ver o filme!
    Roberta Frontini

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