quinta-feira, 18 de abril de 2013

Esqueletos Fora do Armário



Título: O Detective Esqueleto
Autor: Derek Landy
Editora: Porto Editora
Adaptação para a Língua Portuguesa: Cláudia Ramos*

Aviso: A moralidade enegrece a cada volume.

Todas as histórias de detectives começam com uma morte. Esta não é diferente, embora a transição de pessoa a cadáver não seja exactamente detalhada embora se mencione quão inesperada foi para todos, incluindo o morto, o funeral mostrando a sua personalidade e a profissão através das memórias da protagonista e descrição daqueles que assistiram, sendo sublinhada a presença de um “cavalheiro num sobretudo castanho-mostarda”. 

A morte em si pouco mais é que o catalisador para todo o resto da história, a peça final colocada no lugar para que a protagonista comece a sua jornada.

Tanto no livro como no mundo em que habitamos a realidade que somos forçados a viver, na qual temos de nos encaixar e trabalhar, é aborrecida. Se não o fosse não existiriam livros, jogos, filmes, desportos e tudo o resto seria supérfluo. Afastámo-nos um pouco da questão mas a verdade é que a protagonista partilha desta opinião, mencionando o seu amor por aventuras, fantasia mistérios e pelo morto acompanhado um desagrado intenso pelo tio, tia e primas gémeas. Mas a ela é-lhe dada a oportunidade de quebrar a monotonia do véu cinzento com que nos embaraçamos dia, após dia, após dia…

Tendo herdado a fortuna, a casa e, como mais tarde vai perceber, os segredos do seu falecido tio, o escritor cujo mundo de magia e horror descritos nos seus trabalhos é um reflexo de toda a realidade escondida dos comuns mortais, Stephanie consegue, deveras por acidente e uma mísera tentativa de assassinato, olhar para aquilo que está escondido atrás do véu e imiscuir-se lentamente no outro lado do mundo, descobrindo capacidades, poderes e os restos de uma guerra cujos ecos ainda afectam a comunidade mágica.

Nada mau para uma rapariga de doze anos.

Acerca da protagonista várias coisas me levam a gostar dela no primeiro volume, logo no segundo capítulo, para além do autor ter um sentido de sarcasmo sádico que fala à minha almazinha engelhada. Não gosta da escola e não gosta dos professores e cito “Não lhe agradava o modo como eles exigiam um respeito de que não eram merecedores”. Talvez isto não seja realidade para muitos e sabem os deuses, deusas e diabo que tendo eu cinco professores na família deles detenho testemunhos que alguns até tentam não ser a cruz das existências estudantis. Nunca encontrei nenhum desses brilhantes exemplos de ética professoral nas aulas que recebi. 

Acerca do mundo: é cínico. Não nos deixa dúvidas que a magia nem sempre é tudo aquilo que se deseja e que também existem desvantagens e vantagens naquele lado do véu.

É uma boa leitura embora seja um dos livros que sofre com a caracterização de “juvenil”, a partir dos 9 anos dizem eles, porque não começa com leveza e os personagens não são tratados com bondade. Tortura, morte, desmembramentos, possessões, zombies, esqueletos andantes, sombras vivas, homens psicóticos com machados… têm de tudo. O que apenas torna a questão mais interessante. Por outro lado… As pessoas tendem a ser cegadas pelo mundo da Disney quando pensam em magia, fantasia e heroínas e relegam tudo o que contenha esses elementos para a pilha da literatura juvenil sem um segundo pensamento. Há pouco material heróico na protagonista para começar e as coisas apenas pioram. Com resultados hilariantes.

*Adaptação – Talvez o uso de adaptação ao invés de tradução se deva ao facto de alguns dos nomes serem alterados, encaixando-se um pouco mais fluidamente à língua portuguesa. Não é algo que aprecie mas foi essa a decisão tomada.

Sabine Spine

Outros livros na colecção:
(Traduzidos)
Brincar com o Fogo
Os Sem Rosto
Dias Negros

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