quinta-feira, 25 de julho de 2013

Distopia e Literatura

Em tempos de crise, não há nada melhor para camuflar a decadente realidade que nos rodeia do que mergulhar num universo ainda mais perturbador do que o nosso. Não é por isso de estranhar que os textos distópicos tenham florescido no século das duas Guerras Mundiais, onde era urgente que a decadência humana fosse camuflada com um ideal ainda mais escandaloso: uma sociedade apática, desprovida de qualquer traço tipicamente humanizante, onde a escravatura predomina, agrilhoando a liberdade pessoal sem remorsos. Eis as raízes da literatura distópica.
Vários são os títulos que navegam por estes mares (ver por exemplo http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_dystopian_literature), mas o mais interessante é vislumbrar que, na sua evolução, conseguimos detectar diferentes matizes estreitamente ligadas aos problemas político-sociais da década em que foram escritos. Na verdade, é clara uma evolução dentro da própria temática, que desenvolve as suas raízes para subgéneros, através da introdução de diferentes questões (que transmitem a versão mais negra da sociedade em que se inserem). Desde o humor negro utilizado em 1984, onde a luz da amoralidade política recai directamente na problemática da negação do livre-arbítrio, passando pela violência psicológica extrema de Laranja Mecânica, vislumbramos agora uma nova tendência, onde a tónica influi mais na condicionante emocional e sentimental, como por exemplo em Os Jogos da Fome.

O objectivo é o mesmo: levar os nossos medos a um extremo, chegando mesmo a satirizá-los, mas sempre receando transpor a barreira entre o real e a ficção. Contudo, o foco central vai-se alterando, dando voz às principais preocupações dos novos tempos. O seguinte quadro, publicado no Goodreads, ilustra bem esta realidade:




Apesar do surreal do monstruoso, o mais perturbador é quando começamos a vislumbrar matizes da nossa realidade… Ou mesmo uma trajectória inadiável e silenciosa rumo à materialização da ficção.

K. Dalloway



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