quarta-feira, 17 de julho de 2013

40º à sombra

Não há revista, jornal, blogue, bula de medicamento, etc. e tal que, chegados os longos e quentes dias estivais resista a dar eloquentes conselhos sobre que livros levar para férias, junto ao biquini e às havaianas. Eu também não. Agora, estarão as minhas irmãs a revirar os olhos e a murmurar entredentes: «Que clichê!». 
Sem espinhas e com a autoridade de primogénita, assumo o lugar comum e deixo aqui algumas sugestões para os vários cenários deste Verão quente, menos animado que o outro, sem camaradas, bombas, poder nas ruas, Vascos ou Otelos. Quedas de governo, então, nem vê-las! Reformulo a frase: eis as sugestões para os vários cenários deste Verão morninho, morninho, como leitinho antes de dormir.

1. Deitados na praia

Uma ideia corrente é que o Verão foi feito para leituras mais levezinhas. Não concordo. Pessoalmente, gosto de guardar os pesos pesados da minha estante para Agosto. Nada como um soco no estômago suado. Para outros Marquesinhos de Sade como moi, aconselho A Cidade e os Cães de Mário Vargas Llosa para ler na praia, a lagartear ao sol, besuntado(a) em bronzeador e a maresia pelas narinas adentro. A cada página, uma conclusão: a vida é fodida. Erguemos os olhos da página e vemos um farto ventre peludo e descaído a ocultar o minúsculo fato de banho. E rimo-nos. 


2. Vamos acampar

Para quem prefere a tal leitura levezinha de Verão e passa Agosto (atenção: conteúdo sujeito a piadas foleiras) entre a montagem da tenda e a entremeada no assador, torna-se imprescindível na mochila, além do canivete suíço e do repelente, o último do Dan Brown. Toda a gente que alguma vez acampou na vida sabe que há uma coisa que, irremediavelmente, acaba sempre por faltar no momento mais crítico - papel higiénico. Por isso, leve sempre o Inferno debaixo do braço (estranha frase esta) e nunca mais terá esse problema.


3. Aquela interminável semana na casa da família



Saímos de casa mas continuamos nela. Há mais gente na mesa de jantar, entre parentes próximos e distantes. Trocamos sorrisos amarelos e falamos com pouca vontade sobre o passado e o futuro, o nosso, o deles, o do primo Malaquias, o da vizinha Elvira. Com a precisão de um laser, surgem as mais indesejáveis perguntas: "Então e o trabalho?" (Fui despedido no mês passado), "Quando te casas?" (O meu namorado trocou-me por uma sueca com as pernas da Heidi Klum), "Comprei um Audi. Qual é o teu carro?" (Ando de bicicleta... emprestada). Solução: Tenho um livro para ler!. Feche-se no quarto com Proust. Em Busca do Tempo Perdido. Os sete volumes. Porque sabemos o quanto as férias em família podem ser intermináveis.


4. Nada como o campo

Não pense. Porque pensar é estar doente dos olhos.


5. Love boat

Nunca fiz um cruzeiro. Mas tenho uma imagem em mente: casais de sexagenários de trajes floridos e Tom Jones. It´s not unusual.... Antes do encontro com o Gregório (e depois também), umas páginas das Correcções de Jonathan Frazen. Há uma passagem num cruzeiro de fazer perder o buffet!


6. O cenário mais provável: não há dinheiro para férias, por isso, ficamos na cidade.



Aproveite a esplanada. Sente-se à sombra, num final de tarde, peça uma água (porque não há euros para o mojito) e leve na mala o On The Road. Nada como um road book para ler parado numa cidade a destilar. Aconselho uma edição em inglês. Não é por falta de confiança na tradução. Ler beatniks é sempre um acto cool. Com sorte, talvez um turista alto, louro, atlético e endinheirado meta conversa consigo... e o próximo Verão seja nas Maldivas.


A. Zamperini

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