quinta-feira, 23 de maio de 2013

Livros na Tela



Actualmente, já quase não podemos falar num clássico literário sem fazermos referência às suas infindáveis adaptações cinematográficas. Vezes sem conta vemos anúncios de estreias de filmes baseados em histórias inicialmente imortalizadas em papel. A ordem estipulada para o público é geralmente ver o filme e ler o livro. Para aqueles que gostam de criticar (e fica ao critério de cada um se o faz construtiva ou destrutivamente) a ordem é muitas vezes invertida em favor do prazer do folhear as páginas, sentir o peso, a textura e o perfume da cola, e mais tarde do reconhecimento de situações e personalidades nas imagens pixelizadas do ecrã. Os livros baseados em filmes terão a sua vez neste blog.
Este é um fenómeno cada vez mais frequente, especialmente presente na faixa etária entre os 13 e os 19, idade em que um indivíduo está mais interessado no desenvolvimento – ou ruína como muitas vezes acontece – pessoal. É uma idade em que se deixam as Cinderelas sem sapatos e as Belas Adormecidas em coma pela maquilhagem e alteres (incluamos, por favor, ambos os sexos na equação). A entrada na vida universitária força em grande medida a leitura dos clássicos o que, sejamos francos, em nada ajuda a sua promoção aos olhos da humanidade juvenil. Por fim, o azafamado quotidiano do adulto, entre interesses de carreira e responsabilidades familiares, impossibilita que o ser humano tenha sequer tempo para se coçar – quanto mais abrir um livro – até à idade da reforma (ou não), altura em que, utilizando uma linguagem mais corriqueira, uma pessoa já não tem pachorra para aturar ideologias e preocupações alheias, mesmo que estas provenham de personagens fictícias.
Tudo isto em conta, a adaptação para a tela de obras literárias emblemáticas (mais uma vez, ou não) tem a grande vantagem de permitir um acesso mais directo e rápido – tendo em conta que há quem passe horas a ler um parágrafo – a aspectos culturais de outra forma virtualmente inacessíveis ao público em geral. Reconheçamos que a geração mais jovem – que a minha, pelo menos – não teria conhecimento da vida miserável de Fantine não fosse a espantosa representação de Anne Hathaway n’Os Miseráveis de Tom Hooper.
Posto isto, é também necessário reconhece que são em maior número as adaptações severamente criticadas que as louvadas. Não sei o que terá pensado Rick Jordan, mas quanto a mim, a desilusão foi grande ao ver o Percy Jackson de Chris Columbus. Em suma, do livro estavam apenas presentes as personagens principais. Anabeth era mais conflituosa que inteligente, Cronos (o verdadeiro vilão da saga inteira) nem apareceu e, perdoem-me o latim, que ***** estava a Perséfone a fazer no filme?
Faço por todas estas razões um apelo aos cinematógrafos, realizadores guionistas e pessoal ligado ao cinema que, no presente ou no futuro leia este post: se vão adaptar livros com sucesso, clássicos ou não, para a Sétima Arte, não minem os campos que a Sexta tenta desbravar. Podem dar os tiros que quiserem nos vossos próprios pés, só não acertem na Cultura.

Austen

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