Autor: Derek Landy
Editora: Porto Editora
Adaptação para a Língua Portuguesa: Cláudia Ramos*
Aviso: A moralidade enegrece a cada volume.
Todas
as histórias de detectives começam com uma morte. Esta não é diferente, embora
a transição de pessoa a cadáver não seja exactamente detalhada embora se
mencione quão inesperada foi para todos, incluindo o morto, o funeral mostrando
a sua personalidade e a profissão através das memórias da protagonista e
descrição daqueles que assistiram, sendo sublinhada a presença de um
“cavalheiro num sobretudo castanho-mostarda”.
A
morte em si pouco mais é que o catalisador para todo o resto da história, a
peça final colocada no lugar para que a protagonista comece a sua jornada.
Tanto
no livro como no mundo em que habitamos a realidade que somos forçados a viver,
na qual temos de nos encaixar e trabalhar, é aborrecida. Se não o fosse não
existiriam livros, jogos, filmes, desportos e tudo o resto seria supérfluo.
Afastámo-nos um pouco da questão mas a verdade é que a protagonista partilha
desta opinião, mencionando o seu amor por aventuras, fantasia mistérios e pelo
morto acompanhado um desagrado intenso pelo tio, tia e primas gémeas. Mas a ela
é-lhe dada a oportunidade de quebrar a monotonia do véu cinzento com que nos
embaraçamos dia, após dia, após dia…
Tendo
herdado a fortuna, a casa e, como mais tarde vai perceber, os segredos do seu
falecido tio, o escritor cujo mundo de magia e horror descritos nos seus
trabalhos é um reflexo de toda a realidade escondida dos comuns mortais,
Stephanie consegue, deveras por acidente e uma mísera tentativa de assassinato,
olhar para aquilo que está escondido atrás do véu e imiscuir-se lentamente no
outro lado do mundo, descobrindo capacidades, poderes e os restos de uma guerra
cujos ecos ainda afectam a comunidade mágica.
Nada
mau para uma rapariga de doze anos.
Acerca
da protagonista várias coisas me levam a gostar dela no primeiro volume, logo no segundo
capítulo, para além do autor ter um sentido de sarcasmo sádico que fala à minha
almazinha engelhada. Não gosta da escola e não gosta dos professores e cito
“Não lhe agradava o modo como eles exigiam um respeito de que não eram
merecedores”. Talvez isto não seja realidade para muitos e sabem os deuses,
deusas e diabo que tendo eu cinco professores na família deles detenho
testemunhos que alguns até tentam não ser a cruz das existências estudantis.
Nunca encontrei nenhum desses brilhantes exemplos de ética professoral nas
aulas que recebi.
Acerca
do mundo: é cínico. Não nos deixa dúvidas que a magia nem sempre é tudo aquilo
que se deseja e que também existem desvantagens e vantagens naquele lado do
véu.
É
uma boa leitura embora seja um dos livros que sofre com a caracterização de “juvenil”,
a partir dos 9 anos dizem eles, porque não começa com leveza e os personagens
não são tratados com bondade. Tortura, morte, desmembramentos, possessões,
zombies, esqueletos andantes, sombras vivas, homens psicóticos com machados…
têm de tudo. O que apenas torna a questão mais interessante. Por outro lado… As
pessoas tendem a ser cegadas pelo mundo da Disney quando pensam em magia,
fantasia e heroínas e relegam tudo o que contenha esses elementos para a pilha
da literatura juvenil sem um segundo pensamento. Há pouco material heróico na
protagonista para começar e as coisas apenas pioram. Com resultados
hilariantes.
*Adaptação – Talvez o uso
de adaptação ao invés de tradução se deva ao facto de alguns dos nomes serem
alterados, encaixando-se um pouco mais fluidamente à língua portuguesa. Não é
algo que aprecie mas foi essa a decisão tomada.
Sabine Spine
Outros
livros na colecção:
(Traduzidos)
Brincar com o
Fogo
Os Sem Rosto
Dias Negros
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