Em tempos de
crise, não há nada melhor para camuflar a decadente realidade que nos rodeia do
que mergulhar num universo ainda mais perturbador do que o nosso. Não é por
isso de estranhar que os textos distópicos tenham florescido no século das duas
Guerras Mundiais, onde era urgente que a decadência humana fosse camuflada com
um ideal ainda mais escandaloso: uma sociedade apática, desprovida de qualquer
traço tipicamente humanizante, onde a escravatura predomina, agrilhoando a
liberdade pessoal sem remorsos. Eis as raízes da literatura distópica.
Vários são os
títulos que navegam por estes mares (ver por exemplo http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_dystopian_literature),
mas o mais interessante é vislumbrar que, na sua evolução, conseguimos detectar
diferentes matizes estreitamente ligadas aos problemas político-sociais da
década em que foram escritos. Na verdade, é clara uma evolução dentro da
própria temática, que desenvolve as suas raízes para subgéneros, através da
introdução de diferentes questões (que transmitem a versão mais negra da sociedade em que se inserem). Desde o humor negro utilizado em 1984,
onde a luz da amoralidade política recai directamente na problemática da
negação do livre-arbítrio, passando pela violência psicológica extrema de Laranja Mecânica, vislumbramos agora uma
nova tendência, onde a tónica influi mais na condicionante emocional e
sentimental, como por exemplo em Os Jogos
da Fome.
O objectivo é
o mesmo: levar os nossos medos a um extremo, chegando mesmo a satirizá-los, mas
sempre receando transpor a barreira entre o real e a ficção. Contudo, o foco
central vai-se alterando, dando voz às principais preocupações dos novos
tempos. O seguinte quadro, publicado no Goodreads, ilustra bem esta realidade:
(Fonte: http://www.goodreads.com/blog/show/351-the-dystopian-timeline-to-the-hunger-games-infographic)
Apesar do surreal do monstruoso, o mais perturbador é quando
começamos a vislumbrar matizes da nossa realidade… Ou mesmo uma trajectória
inadiável e silenciosa rumo à materialização da ficção.
K. Dalloway
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