Actualmente, já quase não podemos falar num clássico
literário sem fazermos referência às suas infindáveis adaptações
cinematográficas. Vezes sem conta vemos anúncios de estreias de filmes baseados
em histórias inicialmente imortalizadas em papel. A ordem estipulada para o
público é geralmente ver o filme e ler o livro. Para aqueles que gostam de
criticar (e fica ao critério de cada um se o faz construtiva ou
destrutivamente) a ordem é muitas vezes invertida em favor do prazer do folhear
as páginas, sentir o peso, a textura e o perfume da cola, e mais tarde do
reconhecimento de situações e personalidades nas imagens pixelizadas do ecrã. Os
livros baseados em filmes terão a sua vez neste blog.
Este é um fenómeno cada vez mais frequente, especialmente
presente na faixa etária entre os 13 e os 19, idade em que um indivíduo está
mais interessado no desenvolvimento – ou ruína como muitas vezes acontece –
pessoal. É uma idade em que se deixam as Cinderelas sem sapatos e as Belas
Adormecidas em coma pela maquilhagem e alteres (incluamos, por favor, ambos os
sexos na equação). A entrada na vida universitária força em grande medida a
leitura dos clássicos o que, sejamos francos, em nada ajuda a sua promoção aos
olhos da humanidade juvenil. Por fim, o azafamado quotidiano do adulto, entre
interesses de carreira e responsabilidades familiares, impossibilita que o ser
humano tenha sequer tempo para se coçar – quanto mais abrir um livro – até à
idade da reforma (ou não), altura em que, utilizando uma linguagem mais
corriqueira, uma pessoa já não tem pachorra para aturar ideologias e preocupações
alheias, mesmo que estas provenham de personagens fictícias.
Tudo isto em conta, a adaptação para a tela de obras
literárias emblemáticas (mais uma vez, ou não) tem a grande vantagem de
permitir um acesso mais directo e rápido – tendo em conta que há quem passe
horas a ler um parágrafo – a aspectos culturais de outra forma virtualmente inacessíveis
ao público em geral. Reconheçamos que a geração mais jovem – que a minha, pelo
menos – não teria conhecimento da vida miserável de Fantine não fosse a
espantosa representação de Anne Hathaway n’Os
Miseráveis de Tom Hooper.
Posto isto, é também necessário reconhece que são em maior
número as adaptações severamente criticadas que as louvadas. Não sei o que terá
pensado Rick Jordan, mas quanto a mim, a desilusão foi grande ao ver o Percy Jackson de Chris Columbus. Em
suma, do livro estavam apenas presentes as personagens principais. Anabeth era
mais conflituosa que inteligente, Cronos (o verdadeiro vilão da saga inteira)
nem apareceu e, perdoem-me o latim, que ***** estava a Perséfone a fazer no filme?
Faço por todas estas razões um apelo aos cinematógrafos,
realizadores guionistas e pessoal ligado ao cinema que, no presente ou no
futuro leia este post: se vão adaptar livros com sucesso, clássicos ou não,
para a Sétima Arte, não minem os campos que a Sexta tenta desbravar. Podem dar
os tiros que quiserem nos vossos próprios pés, só não acertem na Cultura.
Austen
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