Há pouco tempo, um grande amigo chamou-me louca por ter dito
em alto e bom som que detesto Poesia, afirmação que eu deixei sem resposta. Minutos
mais tarde, no entanto, sentada à secretária a recortar as páginas da minha
última aquisição na Feira do Livro 2013 – antes que se assustem, o livro ainda
era do século passado, pelo que as páginas tinham mesmo que ser recontadas para
o poder ler – pus-me a pensar: estará correcto afirmar que não gosto de poesia
quando eu própria já escrevi no mesmo género nos tempos livres?
Confesso perante todos os leitores deste blog que os meus hábitos
de leitura são relativamente recentes. Apesar de vir de uma família de ávidos
leitores de clássicos, romances e contos, foi-me apenas despertada a paixão
pela leitura na já não tão tenra idade dos 13 anos. Devo a minha actual obsessão
(pois não sei como de outra forma posso considerar o prazer que sinto em
possuir e ler vezes sem conta os mesmo livros vezes sem conta) à Câmara dos Segredos de J.K.Rowling (lido
11 vezes – sim, eu contei) e digo sem vergonha que faço parte dos milhares de
seguidores que fervilhavam com o rumor de saída de um livro da saga… mas que gemiam
com os filmes.
O meu amor pelo Mr. Potter acabou por amadurecer e direccionar-se
mais para a arte da escrita que me fez apaixonar pelas personagens daquele
mundo fantástico de Hogwarts (apesar de o tema nunca se ter esfumado de todo). Descortinei
os segredos das brumas de Bradley (que nunca cheguei a terminar porque o
Lancelot irritou-me), voei no dorso dos dragões de Paolini e iniciei-me nas
trevas dos mundos de Bishop. Tudo isto nos tempos livres de manuais escolares e
provas globais (nem acredito que ainda sou desse tempo) e até um trabalho de área
de projecto sobre o Livro Enquanto Objecto no 9º ano – foi nessa altura que fiz
o meu primeiro livro… com uma caixa de cereais (explico quando vos vir em pessoa).
Foi então que decidi arriscar e alargar os meus
horizontes literários. Li o meu primeiro clássico, Orgulho e Preconceito. Sabemos que o nosso primeiro amor geralmente
não está destinado a durar, e ainda que nunca deixe de sentir um grande apego à obra que me iniciou nas delícias da leitura, nada se poderá alguma vez
comparar à profundidade do que senti depois de acabar o livro. Voltara a amar.
Depois de ter devorado a obra completa – e de ter conseguido pelo menos 5 exemplares
do Orgulho, em ambas as línguas - passei para Dickens e Brönte. Comecei também
a ler a Nora Roberts e outros autores românticos. Até alguns exemplares da
Sabrina fazem parte da minha colecção. Uma das minhas manias mais irritantes é
ir procurar adaptações cinematográficas dos livros que mais gostei. Escusado será
dizer que acabo a maioria das vezes muito desapontada. Mas no caso dos clássicos,
a BBC conseguiu surpreender-me com as séries.
Agora é-me difícil confessar tanto como ver que os livros,
que tanto adoro, estão a ganhar pó. A minha biblioteca, o meu orgulhoso
santuário com mais de 200 exemplares (lembrem-se da minha famelga, não sou
doida para comprar tantos livros em apenas 10 anos) ainda é o meu refúgio, mas
os livros pouco saem do seu posto. As responsabilidades aumentaram e o tempo
diminuiu. O tempo em que me trancava no quarto até acabar um bom livro já faz
parte da História. Ainda leio, mas apenas nas horas vagas.
Mas tudo isto para dizer que não gosto de poesia. No meio de
toda esta cacofonia de papel, não tenho um único exemplar cujo conteúdo rime
minimamente sequer que não tenha sido comprado especificamente como obrigatório
para as aulas de Língua Portuguesa. A maioria dos poemas que tenho não passa
para além das páginas dos livros de escola. Tenho um ou outro que escrevi, como
trabalho de casa e que admito ter gostado de escrever em momentos de inspiração
mais metafísica, mas que considero serem, numa palavra, maus.
A prosa sempre esteve no meu coração, mesmo antes de começar
a ler. Sou contadora de histórias por natureza e não trovadora. Gosto de Fernando
Pessoa e de certos poemas de Cesário Verde. Mas de forma alguma - e peço
desde já imensas desculpa a todos os poetas estrondosamente talentosos que sei que existem no
mundo e ao meu amigo - considero um investimento pessoal livros cujo interior
tenho que queimar neurónios para perceber ou para desvendar algum sentido (que
pode nem sequer existir) quando esses neurónios me fazem e sempre fizeram muita
falta.
Austen
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