Recentemente
precisei de viajar.
Não
foi longe e passei apenas por alguns dias fora mas é raro viajar sem pelo menos
um livro na mala ou o bookeen (um pequeno e-reader). E uma viagem sem
entretenimento torna-se um tédio. Vai-se sempre armada e prevenida com vários
mundos à disposição. Pelo menos este é o meu caso e as marcas nos meus ombros
provam a minha preferência.
O
peso dos três livros que escolhi acrescentam-se à bagagem e ao longo do
percurso para alcançar o sítio onde se tem de ficar acaba por se tornar brutal.
Acrescenta-se a isso a falta de acesso aos livros devido à moda que nos impinge
malas nas quais um volume que não seja de consumo rápido ou formato de bolso
caiba, forçando-nos a deixar os livros na bagageira, armazenados com roupas e necessaire. Não é que siga a moda
atentamente. Simplesmente não se vai encontrar nada de diferente a não ser que
se esteja disposto a gastar extra com compras online.
De
regresso à questão. O bookeen deixou-me armazenar cerca de oitenta volumes,
comprados online ou grátis através do Projecto Guttenberg a acrescentar a uma
variedade de clássicos em várias línguas oferecidos na compra do aparelho em
si.
Na
verdade a minha preferência pelo livro enquanto objecto físico causa-me
bastantes problemas em termos de espaço e sim, gostaria de pelo menos ter a
possibilidade de os transformar em algo mais fácil de armazenar. Por outro lado
ai de quem ameace o meu papel. Por outro lado ainda, não tenho certeza se a
minha preferência pela forma física predefinida se deve à habituação e convívio
com livros desde criança. Há uma certa relutância em ler a partir de um ecrã
plano para a qual não encontro uma origem definida.
Leio.
Mas
não é a minha primeira escolha.
Por falar em escolha… os três livros escolhidos foram a compilação dos contos dos Irmãos Grimm. Apesar de terem cometido o acto questionável* de traduzir os nomes das personagens não deixa de ser um bom trabalho editorial.
Ainda
que na questão dos contos tradicionais possa ser mais compreensível do que numa
outra obra em que durante a tradução se decidiu de repente “vamos adaptar”**, devido
ao facto de a maior parte das fábulas ser do conhecimento das crianças e
bastante imiscuídos no imaginário popular e colectivo. Quer-se uma ligação com
aquilo que nos é familiar em termos de nomes. Por outro lado creio que é para
isso que existem as adaptações adocicadas.***
Poucos
compreenderiam de imediato se de repente a Branca de Neve que conhecem fosse
referida como Schneewittchen ou a
Cinderela como Aschenputtel (Deram o
título de Gata Borralheira e usam-no como nome mas aqui ambos fazem sentido na
minha cabeça). São traduções que não me torturam o ouvido o fazem impressão.
Pergunto-me
se não é outra vez aquela questão da habituação…
Rapunzel
para Rapúncia e Hänsel e Grethel para Joãozinho e Margarida (verdade que criam
um compromisso colocando os nomes originais deste conto entre parentes no
título e na primeira aparição no texto)… aí já me fica entalado.
Irmãos
Grimm
Primeira
Edição Integral****
Contos
da Infância e do Lar volumes I, II e III
Tradução,
Introdução e notas de Teresa Aica Bairos;
Coordenação
Científica de Francisco Vaz da Silva;
Revisão
de João Pedro Tapada;
Temas
e Debates, Círculo de Leitores
*
Não mencionando a abominação no Novo Acordo. Mencionada agora mesmo…
**
Dando um exemplo da Disney das velhas revistas e das aventuras do Tio Patinhas
(Scrooge McDuck) Maga Patológica = Magica DeSpell;
***
Para crianças… mas hoje em dia não se conta como a Madrasta da Cinderela deu
uma faca às filhas e lhes disse para cortarem os dedos e calcanhares para
conseguirem calçar o dito sapatinho… quem precisa de andar quando se é
rainha?... com passarinhos a cantar alegremente:
Cucurrucu, cucurrucato
Olha o sangue no
sapato.
O sapato é
pequeno, o pé foi talhado.
A noiva real
está à espera noutro lado.
As
irmãs para além de pés cortados também ficam cegas. As pombinhas que cantam o
acima mencionado arrancaram-lhes os olhinhos durante o casamento. Adorável.
****Edição
Comemorativa do Bicentenário da Primeira Publicação Alemã;
Sabine
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