Título: «O Poço e o Pêndulo», um conto incluído em Edgar Allan Poe - Histórias Extraordinárias
Autor: Edgar Allan Poe
Editora: LeYa-Bis
Páginas: 16
O terror mais tenebroso ergue-se da
impotência da angústia perante a falta de escolha. A existência dormente do
desmaio perante a inutilidade, dentro de um grito mudo sem resposta, envolve o
ser humano nesse «abismo trasmundano» do desmoronar da ponte entre a esfera do
espírito e o mundo do físico. Com a sentença de morte, o fim inevitável não
escolhe nem o tempo nem o espaço, confinando-se ao vazio do abismo
desconhecido. Mas o frémito da vida persiste e, mesmo perante a evidência incontornável
do fim, podemos sempre acordar e, talvez, vislumbrar a fraca possibilidade de
que «mesmo no túmulo nem tudo está perdido».
Começamos a leitura de O Poço e o Pêndulo com a evidência indiscutível
da sentença de morte de um homem, condenado pela Inquisição. Sem alento nem
esperança, aguarda o derradeiro instante em que abandonará a vida. Contudo,
apesar de implacável e certeiro, o fim não chega de imediato, arrastando-se na
escuridão, assombrando e amaldiçoando a sua última morada, como um vislumbre do
túmulo: uma sala escura com paredes de metal e um poço profundo. Perante o
desafio de resistir a saltar para o seu fim, é deixado num estado descompassado
entre a insónia e o delírio, desmaiando para voltar a ser acordado e
alimentado, apenas para resistir a mais umas horas de implacável terror: está destinado
à loucura, à tenebrosa escolha de saltar. Permanece nesse pesadelo e vê-se
rodeado de paredes cobertas de desenhos, povoadas por figuras monstruosas e
demoníacas que o assombram. Mais tarde, após mais um sono induzido, acorda
amarrado a uma espécie de altar sacrificial de madeira, com um pêndulo cuja
extremidade é uma lâmina que desce, devagar e incessantemente, na sua direcção.
O pavor percorre os seus pensamentos e a tortura torna-se consciente. Entre o
pálido desejo de sobreviver e a miragem do alívio do abraço da morte, o vibrar
moroso do pêndulo percorre os seus pensamentos. Até que, quando a situação não
poderia piorar, do poço aparecem montanhas de ratazanas vorazes esfomeadas,
controladas pelo cheiro a medo e a carne. Mas são estes demónios que o salvam,
libertando-o do seu cárcere. Quando o fim está perto, as próprias paredes
aquecem e a cela fica povoada de bestas, percorrida por um calor infernal, onde
o poço parece a única salvação. Sem escolha e perante a angústia da tortura,
uma questão persiste: haverá mesmo esperança no túmulo? O que acontecerá a este
condenado?
Mestre do terror, este conto de
Edgar Allan Poe destaca-se pela sua chama, ainda que pequena, de esperança. A
tortura psicológica ganha formas tenebrosas e mergulhamos num delírio doentio,
que torna impossível ler este conto sem ser de uma assentada só. Afinal, o
terror habita em nós e, perante a orientação deste mestre, não conseguimos
resistir ao seu chamamento.
K. Dalloway
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