No outro dia estava a passar na rua com um livro do Gerald Gardner aberto a meio e passei pelo El Corte Inglês. Quem já lá entrou sabe que por baixo da subcave estão os CD, DVD, papelaria e livraria. Decidi, como não tinha mais nada para fazer nesse dia, entrar por uns minutos e ver se encontrava alguma coisa de interessante. Passei na banca da Religião e deparei-me com uma prateleira só com Bíblias. Até aí não há assim nada de especial, mas o que me chamou à atenção foi o facto de estarem expostas não só as tradicionais A5 com o papel frágil que conhecemos e capa dura com fontes floreadas a dourado que vemos nas igrejas ou mesmo em casa dos nossos avós (a minha tem pelo menos 3 ou 4, vai-se lá saber porquê). Vi Bíblias A4 com capa mole e cores florescentes em padrões psicadélicos, pequeninas quase A6 com capas protectoras exageradamente grossas e com páginas largas e muitos outros tipos.
Depois deste primeiro choque abri uma e folheei-a (só porque não sou Católica, não quer dizer que não considere o livro interessante), só para confirmar que o texto não tinha sido alterado. Mas foi aí que me caiu a ficha e olhei para a coluna. Pressupostamente, e a meu ver, a secção da Religião deveria englobar os livros das várias religiões a nível mundial, mas à parte de livros sobre o Cristianismo pouco mais se expõe nas suas prateleiras designadas. Actualmente temos conhecimento da existência de várias religiões em vigor. Das monoteístas que conheço temos o Catolicismo, o Luteranismo, Anglicanismo, Cristianismo Ortodoxo, Judaísmo e Islamismo. Temos as Politeístas como o Hinduísmo e Xintoísmo e as Pagãs (Neo-Pagãs e Esotéricas) como o Druidismo, Celtismo, Wicca e Xamanismo. Sobre estas últimas, não esperava de todo que houve alguma coisa na secção da Religião. O pouco que se consegue encontrar estará sempre concentrado na secção do Esoterismo. Mas esperava ao menos, a par da Bíblia Cristã, se conseguisse encontrar também o Alcorão, ou mesmo o Talmud. O, pelo menos, livros que falassem sobre eles. Mas não, parece que a Sociedade se esqueceu que a função dos livros é instruir, seja através da ficção ou não, tal como parece ter-se esquecido que Yeshua (sim, este é o nome verdadeiro de Jesus) era Judeu.
Contudo, temos que ser sinceros, os ataques terroristas que o mundo (especialmente a América) sofreu desde o início do segundo milénio não ajudaram em nada a melhorar a fama do Islamismo no mundo em geral, e o Judaísmo, por alguma razão que ainda não percebi muito bem, não é bem visto desde antes mesmo da instituição do Cristianismo, para mal dos Judeus, infelizmente. Do Xintoísmo muito pouco se sabe e o Hinduísmo não parece muito atraente aos olhos ocidentais. De todas as religiões não Cristãs, a que parece estar mais livre de preconceito é o Budismo, e mesmo assim é porque é principalmente considerado uma filosofia de vida.
As crenças das pessoas, penso eu, são da responsabilidade de cada indivíduo, e não quero de forma alguma afirmar que uma Religião é melhor que a outra, até porque não acredito em tal disparate. Mas a questão aqui é: Será que devido ao preconceito social deveremos sacrificar a Literatura Litúrgica de todas as religiões? Não teremos nós o direito de saber o que existe para além dos quatro evangelistas? Ou será que a aquisição de conhecimento deixa de ser sacrossanta se não for ao encontro dos ideais religiosos em vigor?
Austen